— Nunca havíamos ado por isso.
Apesar do histórico de fogo que já existe no bioma em épocas e extensões específicas, Izzo afirma que o incêndio desta vez "atingiu proporções inéditas".
Uma alternativa para os próximos anos, acrescenta, é a técnica de fogo controlado, já utilizada antes, para impedir que esses grandes incêndios saiam do controle. As florestas são enormes campos de material combustível, como folhas secas, madeiras e arbustos. Com as chamas controladas, parte do material já vai ser consumido, havendo muito menos matéria para ser queimada quando a seca chegar.
A responsabilidade por conservação e restauração, no entanto, não é só do Pantanal: o entorno da região influencia no que acontece no bioma úmido.
— As grandes fazendas que estão aterrando riacho para fazer plantio, por exemplo. São milhares de riachos e nascentes d'água que secam na época com pouca chuva, no Cerrado, e isso diminui a quantidade de água que chega ao Pantanal — afirma Izzo.
A professora Janaina Guernica, pesquisadora do campus do Pantanal da UFMS, destaca em seu projeto de pesquisa o peso da atividade minerária no aumento da vulnerabilidade do bioma. Segundo ela, a extração de minério de ferro em Corumbá (MS) tem promovido não só a retirada de espécies arbóreas da área a ser minerada, mas também um desequilíbrio químico no solo da região — e com isso a revegetação fica bastante comprometida.
— Uma alternativa seria a produção de mudas utilizando o próprio resíduo do processo de mineração, para que a quantidade de nutrientes seja corrigida — explica em vídeo no canal da UFMS no YouTube.
De acordo com o climatologista Carlos Nobre, a utilização corriqueira do fogo para abrir novas áreas ou preparar o terreno para renovação de pastagem e culturas agrícolas deve ser substituída por "novas práticas na agropecuária nacional". Ele explica que a agricultura moderna não usa fogo e desmata muito menos. Ao contrário, o conceito moderno de produção regenerativa baseia-se em mosaicos de áreas agrícolas cercadas por restauração de ecossistemas naturais, que prestam inúmeros serviços ambientais e beneficiam também a agricultura, mantendo o fluxo de necessários polinizadores e reduzindo os extremos climáticos.
— Também a agricultura moderna caminha na direção de ser mais periurbana e verticalizada, aumentando a produtividade, buscando a economia circular, criando menos poluição e resíduos e muito menos agrotóxicos.
Todos os pesquisadores ouvidos pela reportagem também destacaram a importância de uma mudança de mentalidade no trato do assunto. "Geração de conhecimento com base na mobilização da população local" é o foco de Áurea Garcia, doutora em Educação Ambiental e fundadora da ONG Mulheres em Ação no Pantanal (Mupan), que atua ao lado das comunidades tradicionais.
De acordo com ela, o combate emergencial ao fogo não é suficiente para reverter a situação: é preciso uma transformação do olhar para o território.
— Quando pensamos no Pantanal, temos uma diversidade de atores e interesses. Não tem como olhar a curto prazo — afirma.
A pesquisadora destaca a importância de disseminar o conhecimento nas comunidades locais. A intenção é promover discussões e levar informação a elas, fazendo população e lideranças locais "reconhecerem o Pantanal enquanto um território de vida".
— Que essas comunidades também se sintam parte, que não seja somente um espaço onde vivem, e tenham consideração em relação a conservação e sustentabilidade — diz.