• Acabar com o desmatamento ocasionado pelo ser humano
  • Restaurar florestas em áreas que já são de risco
  • Obras de engenharia podem ser implantadas em alguns pontos para aumentar a drenagem perto das estradas
  • Manter a floresta o mais saudável possível e restaurar ao máximo aquelas já perdidas
  • Prejuízo à biodiversidade

    Segundo a professora Sandra Cristina Müller, do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o que existe da Mata Atlântica é algo remanescente e  precioso. Dessa maneira, qualquer perda dessa cobertura é um prejuízo significativo de biodiversidade.

    — A Mata Atlântica é muito fragmentada e a recuperação das áreas degradadas é importante para reconectar fragmentos para se manter o hábitat da fauna. É preciso fazer com que essas populações possam ter o mínimo de estabilidade em termos de genética. É importante que essas áreas estejam o mais conectadas possível — analisa. 

    Cada bacia hidrográfica tem que ter uma área mínima de vegetação nativa. Não só na beira do rio ou nas encostas; nas áreas mais altas e intermediárias também. É uma coisa estratégica

    EDUARDO VÉLEZ MARTIN

    Biólogo do MapBiomas

    Nos casos de deslizamentos de terra, Sandra explica que é preciso parar a degradação do solo. Ela observa que não se deve simplesmente aguardar a regeneração natural da floresta, especialmente em áreas declivosas, onde voçorocas (valetas grandes) são criadas pela erosão. Dependendo da fragilidade do solo, essas valetas podem ganhar proporções enormes.

    — São necessárias intervenções que possam auxiliar o sistema a se recuperar. Chamamos isso de restauração ecológica. Não buscamos construir o sistema do início ao fim, mas fazer ações que permitam a recuperação de uma forma mais acelerada — diz.

    Diagnóstico e acompanhamento

    Félix Zucco / Agencia RBS
    RS tem apenas 42% de vegetação nativa na Mata Atlântica.

    Na avaliação de Sandra, cada situação pode necessitar uma ação diferente, mas o foco deve ser parar a erosão naquele lugar.

    — A semeadura parte da ideia de que estejam faltando sementes naquele local. Em muitas situações, isso não é realidade. Por exemplo, se abriu uma área de deslizamento no meio de uma área que era florestada. Essa floresta ao redor é cheia de sementes e muito provavelmente já estejam chegando novas sementes. Até que ponto vale a pena jogar sementes se o problema não é a falta de sementes, mas talvez a quantidade desse processo de erosão? Às vezes, tem que frear o processo — argumenta.

    A professora chama atenção para dois fatores importantes quando o tema é recuperação de espaços onde ocorreram deslizamentos: realizar o diagnóstico e promover o acompanhamento da área, tanto por imagens como de forma presencial.

    A Mata Atlântica é muito fragmentada e a recuperação das áreas degradadas é importante para reconectar fragmentos para se manter o hábitat da fauna

    SANDRA CRISTINA MÜLLER

    Professora do Departamento de Ecologia da UFRGS

    Sandra dá um exemplo do que acontece em espaços danificados pela erosão:

    — Temos muitas espécies invasoras no Estado que são hábeis em ocupar locais de áreas degradadas. Uma delas é a Uva-do-Japão, que, em situação de solo exposto e degradado, chega e toma conta. Pode dificultar a regeneração natural da floresta que havia antes. Ela acaba sendo dominante no local.

    Déficit de vegetação nativa

    O biólogo Eduardo Vélez Martin, integrante do MapBiomas, está acostumado a detectar locais com desmatamentos no Bioma Pampa e na Mata Atlântica. O profissional traz para o debate a importância de expandir a vegetação nativa nas bacias existentes na Mata Atlântica. 

    — Acho importante entender o déficit de vegetação nativa. Essa vegetação tem o efeito de uma espécie de barreira natural para esse grande volume de água — ilustra. — Por que a água correu tão rápido? Porque falta vegetação nativa na paisagem. Não é na beira do rio, é lá em cima nas cabeceiras.

    Rede de proteção

    O biólogo salienta a necessidade de se ter vegetação nativa em áreas mais altas da Mata Atlântica, o que poderia auxiliar quando há deslizamentos nos morros:

    — Cada bacia hidrográfica tem que ter uma área mínima de vegetação nativa. Não só na beira do rio ou nas encostas; nas áreas mais altas e intermediárias também. É uma coisa estratégica.

    As sugestões am por atacar o processo erosivo e reflorestar toda a bacia hidrográfica. 

    — Temos que ter uma estratégia para tratar pelo menos as cicatrizes mais críticas, com indicações de voçorocas, e garantir essa rede de proteção na bacia — conclui.

    Saiba mais sobre as análises

    A diferença de cerca de 500 hectares de perda de vegetação na Mata Atlântica do Rio Grande do Sul verificada pelo MapBiomas e pela Fundação SOS Mata se deve ao fato de que a primeira análise reporta o desmatamento na Mata Atlântica pelos mapas de biomas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a segunda análise se pauta pelo Mapa de Vegetação Nativa na Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica, que tem algumas áreas de transição com o Pampa que ficam fora da Mata — portanto, abrangem um território um pouco maior.

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