Sei por quê. Belchior foi coerente até o fim. Sua ânsia de liberdade e seu coração suavemente selvagem não eram deste mundo. Em uma de suas composições imortais, ele escreveu:
Meu bem, mas, quando a vida nos violentar,
Pediremos ao bom Deus que nos ajude.
Falaremos para a vida: "Vida, pisa devagar,
Meu coração, cuidado, é frágil".
O coração de Belchior era frágil porque ele acreditava na bondade das pessoas e na grandeza da existência. Por isso, cantou, sua alucinação era ar o dia a dia. Belchior não ou. Chegou o momento em que desistiu. Largou carro e casa, amigos e família, dinheiro e carreira, largou tudo e saiu por aí, para voltar a ser o que sempre foi: apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco. Essa era a sua essência. A minha também. E de tantos mais que, mesmo sentindo que o tempo andou mexendo com a gente, repetimos, a cada dia que termina no horizonte: A felicidade é uma arma quente.