Hoje, olho para os candidatos e penso numa palavra: parâmetros. Onde foram parar os nossos parâmetros?

Parâmetros.

Quando tinha 12 anos de idade, minha mãe largou-me na mão um romance de Agatha Christie. O Assassinato de Roger Ackroyd, acho. O certo é que o protagonista era o detetive belga Hercule Poirot, com aqueles seus bigodes de pontas enceradas. Fiquei viciado. Li todos os livros da velha Agatha, uns 80, e outros livros de detetive e mais outros que não tinham detetive e, de repente, deparei com A Sangue Frio, de Truman Capote.

Oh, Deus.

Em meio à leitura, já nas primeiras páginas, balancei a cabeça e disse para mim mesmo: "Isso aqui é outra categoria, sim, senhor". Então, ei a buscar livros do nível de Capote, o escritor que melhor definiu como se deve escrever. Assim:

"A frase perfeita é a que é maleável e resistente como uma rede de pescar".

Muitos anos depois, pensei outra vez em Agatha. Tomei da estante um de seus melhores romances, O Caso dos Dez Negrinhos, e comecei a ler. Fui só até a esquina. Aquela trama que me comovera aos 12 anos de idade agora me enfarava como se eu estivesse lendo a lista telefônica.

Parâmetros.

Vi Rivellino jogar, senhores. O Patada Atômica. Quebrou os quatro dedos da mão de um goleiro com um canhotaço. Vi Zidane assenhorear-se de um meio-campo, dar um chapéu em Ronaldo e uma cabeçada no peito de Materazzi. Sim, eu estava lá. Vi, também, o jeito como Ronaldinho transformava uma bola de futebol em balão de festa de criança. E, claro, vi Laerte, o Urso, que vocês, tristemente, não viram. Portanto, sei o que é um craque, não me venham com esses meiazinhos de bola na trave.

Na política, você não vai acreditar, mas entrevistei Luiz Carlos Prestes. Estava já bem velhinho, era pequeno, magro e falava com convicção na voz levemente rouca. Era o grande homem do Partidão. O Brasil já teve outros líderes dessa dimensão, à direita e à esquerda: Roberto Campos e José Dirceu, Ulysses Guimarães e Delfim Netto, Covas e Simonsen, Palocci e Brizola. Você podia não concordar com nenhum deles, mas sempre lhes reconhecia a inteligência.

É por isso que, hoje, olho para os candidatos e penso numa palavra: parâmetros. Onde foram parar os nossos parâmetros?

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