Quando se fecham as portas de o ao pensamento qualificado dos literatos e filósofos, as pessoas, como pombas famintas, alimentam-se das sobras da pobreza espiritual e, na falta de ideias para debater, falam de outras pessoas, essa prática comum entre os infelizes de alma atrofiada. O surgimento concomitante da internet, de tantas funções úteis para a sociedade, trouxe como paraefeito danoso esse canal imenso e escancarado aos que necessitam opinar sobre o que não entendem e a julgar atitudes e comportamentos sem nenhum compromisso que não seja nutrir uma autoestima massacrada pela inapetência cultural. A vacuidade dos diálogos nas redes sociais e os dolorosos atropelamentos do idioma expressam apenas as limitações de quem não lê e que, só praticando cultura oral ou usando uma linguagem capenga, nem reconhece os horrores ortográficos esparramados na tela do pobre computador que, se tivesse voz, gritaria.

No outro extremo, alheios ao burburinho da ignorância descuidada e pobre, situam-se os insaciáveis catadores das pérolas do espírito humano, que se encantam com as artes, deslumbram com a literatura e enternecem com a poesia. E isso para desespero dos materialistas que trabalham enlouquecidos para enriquecer e, quando conseguem, descobrem desolados que suas proezas podem até provocar algum tipo de inveja, mas de nenhuma maneira contribuíram para fazê-los mais interessantes.

Há muitos anos, os estudos de neurociência têm demonstrado a importância da preservação da atividade cerebral, estimulada no seu limite, como a maneira mais eficiente de prolongar uma vida produtiva e feliz. Nesse sentido, as evidências mais recentes apontam para a importância da literatura que liberta a mente para as aventuras ilimitadas da imaginação e condenam a fixação na TV que entrega uma matéria pronta, adequada a quem abdicou da ousadia prazerosa de pensar por conta própria.

A poesia é, muito provavelmente, o braço mais sofisticado da literatura, porque impõe ao autor que consiga expressar sentimentos com delicadeza, sonoridade e harmonia, dando ao leitor a sensação de cumplicidade de quem captou uma emoção tão forte e única que, dali por diante, será guardada como se fosse um segredo entre o poeta e seu deslumbrado leitor.

O verdadeiro artista convence, antes mesmo que o verso termine, de que foi capaz de perceber a sutileza do novo e o encanto do insuspeitado. Os viciados em poesia acreditam piamente que a única razão para que um poeta não veja alguma coisa é que ela não exista. E que, outras tantas vezes, o que ele viu, só ele viu.

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