A intransigência de alguns moradores do bairro Moinhos de Vento encontrou guarida em um setor do Ministério Público e a ideia de Túlio Barbosa morreu por ali. Agora, na antevéspera do Natal, amparada em uma decisão judicial que liberou a demolição das casas por entender que não tinham o valor histórico , a Goldsztein transformou-as entulho, liberou os terrenos e está pronta para iniciar a construção.
Os moradores dos andares altos do outro lado da rua perderão a vista privilegiada. Nós, os vizinhos do bairro e os porto-alegrenses em geral, perdemos a chance de ter numa daquelas casas um centro cultural, uma livraria-café, com espaço para exposições e lançamentos de livros. Perdemos porque os xiitas não entenderam a máxima de que , na maioria das vezes, quem tudo quer, tudo perde.
Enquanto se esperava pela decisão judicial, as casas foram se deteriorando pela ação do tempo e do abandono. Agora, o sonho acabou. Em vez de um espaço para a população do bairro desfrutar, teremos apenas o prédio para os afortunados que conseguirem comprar um apartamento nesta rua que é um túnel verde, num dos melhores bairros da Capital.
Túlio Barbosa, o romântico que acreditou no bom senso, está desolado. Por eu ter apoiado o acordo à época, dele recebi uma mensagem que compartilho porque o desfecho deste episódio deve nos ensinar alguma coisa sobre tolerância: "Que tristeza, Rosane! Diante dos escombros que sepultaram a decência do acordo, a dignidade dos envolvidos e a solidariedade que irmanaria a cidade, venceu a justiça que antevi. Mas a vitória se tornou pequena demais para todos e meu natal é o mais compungido que já ei".
A empresa ganhou na Justiça o direito de demolir as casas, mas perdeu dinheiro com o tempo de espera e ficou com uma imagem antipática. Agiu amparada em uma decisão judicial, porque há três anos faltou grandeza ao outro lado para entender que o acordo era o melhor possível para os dois lados.