Não veja este filme. A menos que você ache ok romantizar o abuso sexual
Em Distúrbio, Claire encarna Sawyer Valentini, executiva de uma instituição financeira. Traumatizada por um ex-namorado, que a estaria perseguindo, certo dia ela procura ajuda psiquiátrica em uma clínica, onde acaba internada. Em meio à reflexão sobre como desacreditamos relatos de assédio, o filme também faz um assustador comentário sobre o sistema de saúde dos Estados Unidos.
The Perfection conta a história de Charlotte, uma jovem que era um prodígio do violoncelo, instrumento que teve de abandonar quando sua mãe adoeceu. Anos depois, após a morte da mãe, ela resolve procurar seu antigo mentor, Anton (Steven Weber), que agora tem uma nova pupila, Elizabeth (Logan Browning, principal atriz da série Cara Gente Branca). A partir daí, o filme toma rumos inesperados – e por vezes bizarros e violentos.
Logo no começo da nova versão do clássico O Homem Invisível, acompanhamos Cecilia, na calada da noite, fugir do marido, o gênio da óptica Adrian Griffin (referência ao personagem do romance original, de H.G. Wells), controlador e agressivo. Como o nome do filme entrega, ele vai assombrá-la. Cecilia grita, mas ninguém acredita nela. Sua sanidade é posta em xeque.
— É isso o que ele faz: ele me faz sentir que eu sou a louca da relação! — diz a protagonista, espelhando o drama de muitas mulheres da vida real.
Cada filme tem seu charme narrativo. Soderbergh filmou Distúrbio usando a câmera de um iPhone 7, o que se reverte em planos claustrofóbicos, ângulos inusitados e uma atmosfera cada vez mais aterradora. Em The Perfection, Richard Shepard aperta a tecla rewind para nos mostrar que as coisas não aconteceram do jeito que tínhamos entendido – com o perdão do lugar-comum, em alguns momentos isso é de cair o queixo.
Como um dedicado aprendiz de Alfred Hitchcock, Leigh Whannell presta em O Homem Invisível uma série de tributos ao mestre do suspense, a começar pelas nervosas cordas da trilha sonora. Mas há também a movimentação cadenciada, porém desnorteante, da câmera, a montagem que dá tempo e espaço para que o espectador perceba o perigo em cena, a protagonista que tem a vida desestruturada a ponto de precisar provar que não é culpada, o vilão que tem a cumplicidade do público e o apelo ao nosso voyeurismo – marca identitária do cinema em si. Existe até um MacGuffin, o importante objeto insignificante, no caso, a tecnologia por trás da invisibilidade.
Embora recorram a truques, efeitos especiais e outros recursos do cinema de horror, os três títulos, de certa forma, configuram-se como um contraponto mais realista a 365 dni, que encena como se fosse conto de fadas uma história de sequestro, cárcere privado e abuso sexual (a do mafioso Massimo com a polonesa Laura). Descontada a porção ficção científica, suas tramas parecem mais próximas do que acontece do lado de fora da tela, onde minha colega Kelly Matos desabafou recentemente:
"Já perdi as contas de quantas vezes escrevi sobre violência contra a mulher aqui na coluna. Agressões, socos, tiros, facadas. Parem de nos matar".