Agora em fevereiro, está saindo O Último do Inocentes (112 páginas, R$ 94,90), sobre Riley Richards, um garoto que tem o futuro garantido e namora a garota mais bonita da escola, mas está ligado ao mundo do crime. No final de março, será a vez de Hora Errada, Lugar Errado (112 páginas, R$ 94,90), que visita o ado de Teeg Lawless, quando estava atrás das grades, e a infância perigosa de Tracy Lawless. Mais adiante, sairá Verão Cruel (Cruel Summer), outra história estrelada pela família Lawless, agora em 1988.
Enquanto Sean Phillips equilibra realismo e estilização, apostando na expressividade dos personagens e contando com a inestimável companhia de coloristas como Elizabeth Breitweiser, Val Staples e Jacob Phillips (seu filho), Ed Brubaker atualiza, em narrativas ambientadas no século 21, nos anos 1970 ou na década de 1980, a literatura noir — Raymond Chandler, Dashiell Hammett, James M. Cain... — e o cinema desse subgênero policial. Com títulos indicativos, filmes como Alma Torturada (1942), À Sombra de uma Dúvida (1943) e Beijo da Morte (1947) traduziam angústias da população estadunidense, com o sentimento de segurança e estabilidade em xeque por conta da Segunda Guerra Mundial. Assim disse o pesquisador Bertrand de Souza Lira, autor de Cinema Noir: A Sombra como Experiência Estética e Narrativa (Editora UFPB, 2015): "Com seus valores abalados, a sociedade absorveu facilmente a concepção niilista do homem, com temas sombrios, como alienação, corrupção, desilusão e neurose, alimentando os argumentos noir". Em cenários pessimistas e fatalistas, quase sempre noturnos ou soturnos, a sobrevivência demandava personagens de ética e moral ambivalentes.
Criminal retoma quase todos os clichês do noir: os pequenos criminosos, os assassinos cruéis, as femmes fatales, os barões do submundo, os bartenders que sabem tudo, os capangas dotados de um código de ética e os homens tragados por seus próprios desejos. Ed Brubaker e Sean Phillips cozinham esses ingredientes com afeto e sofisticação, mas sem glorificar o crime. Seus personagens estão longe de serem heróis, embora despertem empatia. Só que nem os autores, nem eles próprios escondem seus podres ou douram sua índole. São íntegros em sua baixeza — ainda que aqui e ali elevem-se no meio de gente pior.
Brubaker e Phillips mergulham no lodo emocional de um punhado de homens (quase sempre brancos, vale ressaltar). A voz encontrada pelo roteirista é tão autêntica, que embarcamos juntos. Somos seduzidos como marinheiros por sereias: sabemos que, de um jeito ou de outro, vamos quebrar a cara, mas rumamos resolutos para os rochedos.
Os personagens de Criminal tentam fugir desse destino que conhecem tão bem. Por vezes, são patéticos na sua fé em um sonho. Em outras, a vingança é o único sentido de suas vidas. Todos buscam os braços de outros (quase sempre outras, vale reforçar) porque não am a solidão que tanto lhes convém. Todos carregam traumas familiares, daí que muitos procurem, a seu modo, recriar ou inventar laços. Não é por acaso que personagens centrais de uma história apareçam como coadjuvantes quase desimportantes em outras, e vice-versa: como uma família, estão todos unidos pelo sangue.