Familiares ainda têm esperança de reencontrar Beatriz Winck
"Me falta um pedaço", diz marido de idosa desaparecida em São Paulo
Familiares de gaúcha que sumiu no santuário de Aparecida vivem sem rumo na cidade da fé

No princípio, a família acreditava que a dona de casa pudesse ter sofrido uma isquemia cerebral em decorrência, entre outros fatores, da falta da medicação para controlar uma arritmia cardíaca – desmemoriada, ela teria se perdido entre os milhares de turistas e talvez embarcado em algum ônibus. Depois, os Winck aram a considerar a possibilidade de sequestro.

– Não acredito em desaparecimento. Não posso acreditar que minha mãe desapareceu e ninguém viu. Alguma coisa estranha aconteceu. Com tamanha divulgação, a mídia toda em cima divulgando em rede nacional, com tamanha procura, e não ter tido nenhuma pista, nenhum resultado, é muito estranho – comenta João Carlos.

O técnico químico perdeu a conta do número de vezes que viajou à região de Aparecida e a dezenas de outras cidades de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Munido de fotos, radiografias da arcada dentária e simulações de computador mostrando possíveis variações da aparência da mãe, ele costuma repetir, em cada local, o roteiro de visitas a asilos, hospitais e necrotérios. Um detetive particular também chegou a ser contratado.

O técnico químico João Carlos com um dos milhares de cartazes impressos com a foto da mãe

João Carlos prefere não revelar quanto foi gasto em agens aéreas, hospedagem, impressão de cartazes, locação de veículos e combustível, mas faz uma comparação: todas as despesas já ultraaram o equivalente ao valor de "dois carros importados de alto luxo". Apesar da falta de informações, a certeza de que dona Beatriz está viva se mantém inabalável.

– Continuo bastante confiante. Tenho a certeza de que a gente vai conseguir resolver o mais rápido possível – diz João Carlos, que deve viajar a São Paulo nos próximos dias para conversar com o investigador e a delegada responsáveis pelo caso.

Contatada por Zero Hora, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo se limitou a emitir uma nota afirmando que as buscas continuam. "Foram feitas pesquisas no banco de dados de Pessoas Desaparecidas e Encontradas, a foto da idosa foi inserida no site da Polícia Civil e a investigação de denúncias foram algumas das providências tomadas para tentar encontrar a vítima. Além disso, pesquisas também são realizadas constantemente em instituições, utilizando a impressão digital da desaparecida", diz o texto.

Na residência de Delmar e Beatriz, no Vale do Sinos, pouco mudou. As roupas e os objetos pessoais da aposentada ocupam os mesmos lugares. O idoso mora com a caçula, Ivone, que o cerca de cuidados, cobrindo-o durante a noite e sempre perguntando se algo lhe falta. Hoje com 85 anos, Delmar transita entre a tristeza profunda, com crises de choro e noites em claro, e o otimismo, fazendo planos "para quando ela voltar". Tenta se distrair com jornais, palavras cruzadas e exercícios físicos. Vai à missa todo final de semana, faz novenas e reza inclusive para Nossa Senhora Aparecida, garantindo que o episódio do santuário não abalou sua fé na santa.

– Eu sempre achei que isso acontecia só em novela. Não entendo, não posso me conformar. A morte é melhor do que isso. Às vezes, me olho no espelho e penso: "O que eu estou fazendo por aqui ainda?" – conta o aposentado. – Me falta a metade. Eu sempre penso nela. É o amor da minha vida – completa.


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