Diariamente, os os leves de Esmerilda são ouvidos entre os corredores dos 14 quartos disponíveis na pousada. De tão apaixonada pelo lugar que ajudou a construir, escolheu viver entre os hóspedes. Mas num cantinho especial: ergueu as três peças de alvenaria no mesmo espaço que em décadas adas serviu como cocheira das vacas da família. Considera o gesto um ato de humildade e de memória.
– Elas nos deram o sustento por muitos anos. Enquanto eu estiver por aqui, vou lembrar a todos o que, um dia, foi este lugar – garante.
Entre uma conversa e outra, a Vó revela que jamais foi à escola. Sozinha, motivada pela força da necessidade, aprendeu a ler e a fazer contas matemáticas. Escreve menos do que lê, mas o suficiente para se comunicar e istrar os negócios.
Na rotina árdua desde o casamento, aos 19 anos, Esmerilda recorda das tarefas exercidas para ajudar no sustento da família. De dia, cuidava dos dois filhos e istrava o mercadinho erguido pelo marido – que já era envolvido com a política – em Itapuã. Nas madrugadas vagas, produzia pães e doces para vender na comunidade e costurava para fora. Esmerilda acredita que a agenda sempre atribulada ao longo da vida a fez não sentir cansaço até hoje.
Na pousada, a Vó começa antes das 8h. Depois de preparar o "suco da longa vida" (composto de beterraba, cenoura, maçã, alecrim, arnica do campo, gengibre, couve e hortelã) e bebericar um copo, ela costuma averiguar como está o atendimento aos hóspedes, conferir as contas a pagar, molhar as dezenas de folhagens espalhadas pelo prédio, conversar com as flores nos jardins do terreno, reforçar a fé sob a figueira centenária e, ainda, ir de carro às compras, se preciso for. Esmerilda comenta, com orgulho, ter renovado recentemente a carteira de motorista para seguir dirigindo o carro e ser a responsável pelas compras da pousada, sempre acompanhada de um funcionário.
– Até chegar a "hora de viajarmos", devemos pensar no que podemos fazer hoje. Servir a um propósito até o fim do nosso ciclo – finaliza, sempre como se estivesse aconselhando quem a ouve.
Filosofias de Esmerilda
"Nós enferrujamos se pararmos no tempo."
"Temos que ter sempre um objetivo para continuarmos pensando no futuro."
"Até chegar a 'hora de viajarmos', devemos pensar no que podemos fazer hoje. Servir a um propósito até o fim do nosso ciclo."
"Não se vive de fantasia, mas sonhar não é pecado. Eu sonho o tempo inteiro."
"Quando eu viajar (morrer), quero ir cercada de flores. Irei sorrindo porque fiz o que pude por aqui."
"Não tenho tempo a perder, a vida é tão linda."
"Não reclamo, só agradeço. Só de abrir os olhos todos os dias já tenho muito a agradecer."
"Ninguém é feliz sozinho."