Famílias (des)conectadas: por que muitas crianças se sentem trocadas pela tecnologia
— Vemos agora no que resultou. Cometemos todo tipo de erro imaginável, e acho que pisamos na bola quanto a alguns dos meus filhos — disse Anderson. — Vislumbramos o abismo do vício e houve alguns anos perdidos, quanto aos quais nos sentimos mal.
Seus filhos estudaram em escola primária particular, à qual ele viu os es tentarem trazer iPads e lousas inteligentes, resultando apenas "em caos e na retirada subsequente de tudo aquilo."
A ideia de que os pais do Vale do Silício estão desconfiados quanto à tecnologia não é novidade. Os padrinhos da tecnologia expressaram preocupações dessa espécie anos atrás, e a aflição mais estrondosa veio do topo.
Tim Cook, diretor da Apple, disse, nesse ano, que não deixaria seu sobrinho participar de redes sociais. Bill Gates proibiu celulares até que seus filhos fossem adolescentes, e Melinda Gates expressou um desejo de que houvessem esperado ainda mais. Steve Jobs não deixou que seus filhos pequenos se aproximassem de iPads.
Porém, desde o ano ado, uma esquadra de desertores célebres do Vale do Silício vem disparando alarmes de modo cada vez mais lúgubre quanto ao que esses apetrechos fazem com o cérebro humano. Funcionários comuns do Vale do Silício estão repentinamente obcecados. Casas vetando aparelhos eletrônicos vêm se espalhando pela região. Babás vêm tendo de contratos que proíbem o uso de celulares.
Aqueles que já expam seus filhos a telas tentam dissuadi-los do vício explicando como os aparelhos funcionam.
John Lilly, um investidor de risco com base no Vale do Silício com a Greylock Partners e ex-diretor do Mozilla, disse que tenta ajudar seu filho de 13 anos a entender que ele está sendo manipulado por aqueles que criaram a tecnologia.
— Tento dizer a ele que alguém criou um código para fazer com que ele se sinta assim — estou tentando ajuda-lo a entender como são feitas as coisas, os valores que são inseridos nelas e o que as pessoas estão fazendo para criar esse sentimento — disse Lilly. — E ele responde: "Eu só quero 20 mangos para conseguir minhas skins no Fortnite".
E há os que trabalham com tecnologia que discordam quanto ao perigo das telas. Jason Toff, de 32 anos, que dirigiu a plataforma de vídeo Vine e trabalha agora para o Google, deixa seu filho de três anos brincar com um iPad, que ele crê não ser nem melhor nem pior do que um livro. Essa opinião é suficientemente impopular entre seus colegas de trabalho para que ele sinta haver agora "um estigma".
— Uma reação que vi logo ontem foi: "Não lhe preocupa que todos os grandes executivos de tecnologia estão limitando o tempo de contato com telas? — disse Toff. — E eu respondi: "Talvez deva me preocupar, mas sempre fui meio desconfiado quanto a normas." As pessoas simplesmente temem o desconhecido.
— É meio do contra — disse Toff. —Mas acho que falo em nome de muitos pais que temem falar o que pensam por medo de serem julgados.
Ele disse que recorda sua própria infância, durante a qual assistiu bastante TV:
—Acho que não saí mal — disse Toff.
Outros pais do Vale do Silício dizem que há modos de tornar a limitação do tempo de contato com telas menos perniciosa.
Renee DiResta, uma pesquisadora de segurança no comitê do Center for Humane Tech, não permite tempo de contato ivo com telas, mas permite porções breves de tempo para jogos desafiadores.
Elas quer que seus filhos de dois e quatro anos aprendam a programar já jovens, então apoia que conheçam aparelhos eletrônicos. Mas ela faz distinções entre tipos de uso de telas. Jogar um jogo de construção é permitido, mas não assistir a um vídeo do YouTube, exceto em família.
E Frank Barbieri, um morador de San Francisco e executivo da startup PebblePost, que rastreia a atividade online para enviar propaganda direta por correio, tenta restringir o tempo de contato com telas de sua filha de cinco anos a conteúdo em italiano.
“Temos amigos que são abolicionistas de telas, e temos amigos que são liberalistas de telas”, disse Barbieri.
Ele havia lido estudos sobre como a aquisição de um segundo idioma enquanto criança seria bom para a mente em desenvolvimento, então sua filha assiste a filmes e programas de TV em italiano.
— Para nós, sinceramente, eu e minha esposa pensamos: "Que lugar gostaríamos de visitar?" — disse Barbieri.
* Tradução de Vicente Nogueira.