É essa verba que mantém boa parte das iniciativas das universidades, ainda que, em algumas instituições, haja complementação com dinheiro próprio. O objetivo das políticas é combater a evasão e assegurar a permanência dos discentes.
Na UFRGS, entre os benefícios para alunos com renda familiar de até um salário-mínimo, estão o auxílio para pagar a internet, o gratuito ao RU, subsídio que permite um custo por refeição nesses restaurantes de R$ 1,30, auxílio-transporte, auxílio-material didático, auxílio-parental para responsáveis legais por crianças de até cinco anos e 11 meses, o atendimento a alunos com necessidades especiais e um programa de saúde que oferece atendimento odontológico, atividades esportivas e apoio à saúde mental.
A UFRGS possui quatro residências estudantis que abrigam cerca de 300 alunos. Outros 100 estudantes recebem auxílio financeiro para pagar o aluguel, em especial aqueles que têm perfis que não se encaixam nos requisitos das Casas do Estudante. Na área de saúde mental, além de serviço de acolhimento psicológico, a instituição oferece ajuda financeira de R$ 250 para 214 estudantes fazerem terapia.
O valor investido pela UFRGS em assistência estudantil é volumoso: em 2024, ficou em torno de R$ 38 milhões, valor que deve subir em 2025. Uma parte desse recurso vem direto da Pnaes, do governo federal, e outra vem de dinheiro próprio da instituição.
— É natural que a gente tenha crescimento da demanda, considerando que as universidades vêm de um período de mudança, e, felizmente, isso tem democratizado o ambiente universitário, tem permitido que mais grupos sociais que, historicamente, estavam excluídos das universidades, hoje consigam á-la. Isso, evidentemente, também aumenta essa demanda por assistência estudantil — aponta Natalia Pietra Méndez, pró-reitora de Assuntos Estudantis da UFRGS.
Para dar conta desse desafio, a pró-reitora afirma que é preciso haver uma ampliação no orçamento federal destinado à assistência estudantil. Ao mesmo tempo, a própria universidade precisa repensar suas políticas e currículos, a fim de permitir uma gestão mais ampla e democrática.
Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), para estudantes de baixa renda também há o gratuito ao RU e benefícios como auxílio-transporte, auxílio-deslocamento aos alunos que residem em cidade próximas, auxílio para alunos com filhos em idade pré-escolar, auxílio inclusão digital e auxílio moradia, que consiste tanto em alojamento estudantil como em ajuda financeira para pagar o aluguel.
Uma iniciativa pioneira foi o Vou Mas Eu Volto, auxílio para alunos que vieram de outros Estados visitarem suas famílias.
— O esforço desse auxílio foi completamente relacionado à questão da permanência, para entender que os estudantes que am, às vezes, três anos sem ver suas famílias, quatro anos, deixam mãe, pai, tem estudantes que deixam filhos, e que eles precisam retornar — relata Angélica Leitzke, coordenadora de Permanência da UFPel.
Dentro da Coordenação de Permanência, vinculada à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) da UFPel, foi criada uma equipe multidisciplinar, para pensar em formas de reter os alunos. O maior incremento tem sido o de pedagogas concursadas, que chegam para olhar para eventuais déficits de aprendizagem que os estudantes podem chegar carregando com eles.
— Essa dificuldade de avançar no curso acontece por inúmeros fatores. Um deles é um déficit que vem da Educação Básica e, às vezes, transtornos de aprendizagem. A gente vai, aos poucos, alterando ou adaptando a equipe para atender esse novo público, que está em transformação — revela Morgana Riva, assessora da Prae da UFPel.
Na UFSM, Gisele Guimarães, pró-reitora de Assuntos Estudantis, destaca o compromisso da universidade com a permanência estudantil diante da crescente diversidade e vulnerabilidade socioeconômica de seu corpo discente. Impulsionada por políticas nacionais como as ações afirmativas e o Sistema Unificado de Seleção Universitária (Sisu), a UFSM testemunhou aumento significativo na matrícula de estudantes que talvez não tivessem tido o ao Ensino Superior anteriormente. A inclusão, no entanto, ampliou a pressão para garantir que estes alunos não só ingressem, mas concluam seus cursos.
— A universidade vem pensando em seus espaços para dar conta de um ambiente que, por vezes, pode se tornar hostil para o estudante. O medo, a própria discriminação, são desafios tão grandes quanto a questão orçamentária — avalia Gisele.
Entre as iniciativas presentes na UFSM está o RU subsidiado e a moradia estudantil – a maior da América Latina, com 2,2 mil vagas. A federal foi pioneira em moradia indígena e aceita crianças em todas as residências estudantis. Há auxílios financeiros para transporte, formação e para pais de crianças, além de e bolsas de apoio.
Na área de saúde mental, a instituição conta com serviços psicossociais e o Comitê de Saúde Mental (Cosame). O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) e a Casa Verônica oferecem acolhimentos para grupos específicos. Segundo a pró-reitora, a universidade busca fomentar a cultura de acolhimento e pertencimento.
— São desafios diários. (...) Mas, de uma forma geral, as universidades estão atentas, e a própria Política Nacional de Assistência Estudantil incorpora uma série de demandas que talvez não sejam novas, mas que não eram discutidas dentro das políticas de permanência, como a questão da parentalidade e o apoio à saúde mental — cita Gisele, destacando que "não adianta falar em expansão do Ensino Superior com índices tão altos de evasão".
Na área de saúde mental, há apoio pedagógico nos centros de ensino e a oferta de escuta discente. Há, contudo, uma preocupação de fomentar esse olhar para a permanência em toda a comunidade universitária: o ideal da pró-reitora é que cada professor, que é a pessoa que tem vínculo com o estudante, identifique quando um aluno não está comparecendo à sua disciplina, a fim de encaminhar a situação de forma rápida para as coordenações de curso ou para a Prae.