Nenhum dos outros 114 cardeais teve as condições que ele teve para, de dentro do Vaticano e sempre ao lado de João Paulo II, preparar-se para ser papa.
Ratzinger construiu a reputação de controlador da fé católica, para que nenhum desvio fosse cometido, porque se dedicou com afinco a suas atribuições. Sempre dormiu pouco, sempre exaltou as virtudes da prece, sempre estudou muito. Era quem supervisionava tudo o que João Paulo II escrevia. O mais antigo dos cardeais, madrugava ao lado de João Paulo, compartilhava de suas idéias, o influenciava nas grandes decisões.
Sua trajetória é a de um religioso vocacionado para o poder. Precoce, aos 30 anos já era considerado um teólogo com talento acima da média. Professor de teologia da Universidade de Bonn, no final dos anos 60 ganhou destaque como combatente do comunismo.
Construía seu perfil conservador, em meio ao crescimento do marxismo, até ser nomeado arcebispo de Munique e Freising, em março de 1977. Menos de três meses depois, foi consagrado cardeal por Paulo VI. Em 1981, aproximou-se de João Paulo II e assumiu a Congregação para a Doutrina da Fé.
Ratzinger, que domina 10 idiomas, queria mesmo ser papa.Como encarregado da congregação que substituiu o Tribunal da Santa Inquisição, o então cardeal alemão mostrou sua face mais dura aos seguidores da Teologia da Libertação. Um deles, o frade franciscanoLeonardo Boff, esteve diante do guardião, em 1984, no Vaticano. Por desafiar os dogmas que o cardeal deveria resguardar, Boff foi condenado a silêncio obsequioso e proibido de lecionar.
Quando esteve no Brasil com JoãoPaulo II, em 1997, manifestou preocupação com o crescimento dos evangélicos e pediu aos cardeais que reagissem.