Mesmo que ainda não se possa confirmar que o terrorista seja o verdadeiro dono do documento - já que aportes sírios se tornaram valiosas moedas de troca, dando origem inclusive a um amplo comércio de papéis falsos, na busca por asilo na Europa -, bastou a difusão da informação para que países já relutantes em acolher refugiados fechassem ainda mais suas fronteiras. Tudo indica que a situação dos migrantes, já alvo de tantos preconceitos, deva se tornar ainda mais árdua daqui para frente.
Ainda que se confirme que um dos terroristas tenha realmente se infiltrado com os refugiados, vale lembrar que o primeiro terrorista identificado tinha nacionalidade sa, com ascendência argelina. Outros foram presos em Bruxelas. Que aporte carrega o inimigo? Numa época de terror globalizado, seus súditos também desafiam estereótipos.
Antes de difundir discursos de ódio contra muçulmanos, é preciso lembrar que os refugiados estão fugindo do mesmo horror que agora atinge a Europa. Ao assistirem pela TV às cenas de Paris atacada, sentem a mesma dor que sentimos, como me relataram em mensagens de WhatsApp alguns integrantes do grupo que acompanhei até a Alemanha:
- Somos contra o terrorismo. Nossa religião é de paz e amor. Estamos solidários com a França contra o terror - resumiu o sírio Adham Assad, 28 anos, que deixou Raqqa, a primeira Capital dominada pelo Estado Islâmico na Síria.
- Vi algumas pessoas chorando aqui, porque estão com medo que a mesma coisa aconteça na Alemanha - contou o iraquiano Mohamed Ali, 23, que também divide alojamento com sírios.
- Eles (os terroristas) querem dizer ao mundo que os refugiados são perigosos - avalia o estudante de medicina sírio Issa Jafar, 24 anos, suspeitando que aquele aporte não tenha sido deixado ao acaso pelo caminho.
Ainda há muito o que esclarecer para que possamos compreender ao que assistimos. As investigações precisam avançar. Mas todo o cuidado é pouco para que, na ânsia de reagir, não culpabilizemos justamente as primeiras vítimas do Estado Islâmico. Negar acolhida aos refugiados que o terrorismo produziu seria apenas uma forma de agravar o espetáculo da perversidade.
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*Zero Hora