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Sem saber dos acordos, alguns ex-acionistas não recebiam nada, e outros, pequenas quantias, caso de uma funcionária pública de Taquara, que prefere não ser identificada. Ela recebeu apenas R$ 1,4 mil e desconfiou. Acabou descobrindo no Fórum que a indenização era muito maior: R$ 270 mil.

– Fiquei chocada porque fui lesada duas vezes: uma pelo direito que eu tinha pela Brasil Telecom e outra por um profissional que eu contratei – reclama a funcionária pública.

Para desistir das ações, os advogados de Taquara teriam recebido R$ 15 milhões da operadora. O dinheiro teria sido entregue pelo advogado e procurador de Justiça aposentado Ricardo de Oliveira Silva, contratado pela Oi para realizar o acerto.

– A partir da quebra do sigilo bancário, se constataram-se pagamentos de valores da operadora de telefonia para o escritório de advocacia que representava essa operadora em Porto Alegre e, depois, o imediato ree desses valores para sociedades de advogados das quais esses dois advogados investigados faziam parte – explica o promotor.

O escritório do advogado contratado pela Oi, em Porto Alegre, também foi alvo de buscas. Silva, que chegou a concorrer ao cargo de chefe do Ministério Público, teve bens bloqueados para garantir eventual ressarcimento às vítimas. Ele também é investigado na Polícia Federal de o Fundo. A suspeita é de que tenha reado dinheiro a outros dois colegas para que eles realizassem acordos judiciais prejudicando os clientes, como no caso de Taquara.

O delegado Mário Vieira diz que Roger Maurício Bellé, de Bento Gonçalves, e Cassio Viegas de Oliveira, de Montenegro, representavam vítimas que tinham direito a mais de R$60 milhões. Em um dos processos, R$ 12 milhões seriam destinados a cinco clientes. Em vez de dividir esse total, cada um teria recebido apenas R$ 15,5 mil. Em depoimento, uma das vítimas disse que desconhecia o acordo e que esperava receber o valor integral.

– Um escritório acordava com o outro para desistir do processo e, obviamente,pela investigação que nós estamos levando a cabo, 40% a Brasil Telecom pagava por fora e não por dentro do processo em acordo judicial. Tudo ilegalmente, com fraude, organização criminosa, praticando estelionato, falsidade ideológica, enganando as vítimas – afirma o delegado Vieira.

Autores de ação teriam direito a um valor total de R$ 12 milhões, mas após acordo à revelia, receberam R$ 15,5 mil cada

Os advogados de Bento Gonçalves e Montenegro eram ligados ao escritório de Maurício Dal Agnol, de o Fundo, já indiciado por supostamente ter recebido R$ 50 milhões da operadora para prejudicar mais de 5 mil clientes.

Em Santa Cruz do Sul, três advogados foram denunciados pelo mesmo motivo. Entre eles, o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça Moacir Haeser. Ele e os colegas Augustinho Telöken e João Pedro Weide teriam feito acordos que prejudicaram os próprios clientes. No processo em que uma aposentada e outras quatro pessoas teriam direito a receber R$ 525 mil, o valor caiu para R$ 262 mil.

– As pessoas acabam desacreditando em tudo, a gente fica sem ter o que dizer. Não dá para confiar em nada, a gente confia e leva o golpe – diz o catador Paulo Ubirajara de Moura, filho da aposentada.

"Não dá para confiar em nada, a gente confia e leva o golpe", diz Paulo Ubirajara de Moura, filho de uma das vítimas do golpe

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CONTRAPONTOS

O que diz a Oi:
Em nota, a empresa de telefonia Oi, que comprou a Brasil Telecom, "refuta ilações de que tenha atuado de forma irregular em acordos na Justiça". "Cumprindo seu direito e suas obrigações (...) a Oi contratou advogados para representá-la na esfera judicial em busca de acordos legítimos, seguindo os ritos previstos na lei", e "honrou todos os pagamentos de acordos celebrados judicialmente ou extrajudicialmente com advogados regularmente constituídos".

Ainda de acordo com a empresa, "segundo noticiado, os valores recebidos pelo representante dos autores das ações não foram reados a seus respectivos clientes, do que decorre, obviamente, a responsabilidade exclusiva desses advogados, e não da Oi".

Por fim, em relação ao caso que envolve os acordos celebrados em Taquara, a empresa afirma que até o momento "não é objeto da investigação mencionada pela reportagem", e diz confiar "na técnica e discernimento das autoridades investigativas", se colocando "à disposição para prestar eventuais esclarecimentos a fim de contribuir com as apurações em curso".

O que diz Ricardo de Oliveira Silva, advogado contratado pela Oi:
O advogado não retornou o pedidos de entrevista.

O que dizem os advogados dos ex-acionistas da CRT:

- Augustinho Telöken e João Pedro Weide
Os advogados disseram que todos os acordos realizados foram benéficos aos clientes e que todos eles receberam o dinheiro a que tinham direito.

- Moacir Haeser
O advogado afirmou que considera a denúncia uma injustiça e que os acordos foram feito com base em decisões de instâncias superiores de justiça.

- Evandro Montemezzo
Na terça-feira (16), o advogado enviou uma nota afirmando que "não praticou nenhum ato contrário aos poderes que lhe foram outorgados pelos seus clientes" e que atuou "dentro dos limites do instrumento de representação nas ações que patrocinou em detrimento da Oi Brasil Telecom S.A. e, sobretudo, resguardando todos os direitos e interesses de seus clientes". Montemezzo afirma ainda que todos os seus clientes receberam os valores devidos, "os quais foram estipulados pelos juízos competentes".

- Flávio Carniel
O advogado nega o envolvimento no caso e disse que todos os pagamentos feitos aos clientes ocorreram dentro da lei.

- Roger Bellé
A defesa de Bellé nega a acusação e diz que o advogado era apenas um parceiro do advogado Maurício Dal Agnol, que era quem sacava os valores e entregava os cheques para Bellé distribuir aos clientes.

- Cássio Viegas de Oliveira
O advogado declarou que não vai se manifestar porque não foi comunicado da investigação.

- Maurício Dal Agnol
A defesa do advogado disse que os acordos foram favoráveis aos clientes, que chegaram a receber valores acima da média.

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