Detento do Presídio Central chefia quadrilha binacional
A lei do país vizinho se tornou mais rígida. Vender armas para estrangeiros virou tráfico internacional. Para isso, usaram da condição de colecionadores e, também, policiais, a quem é permitido a compra do armamento. Viraram clientes preferenciais de duas armerías: La Martineta e Todo Armas, em Montevidéu.
Parte do material bélico foi adquirido pela internet e entregue na fronteira. Conforme depoimentos, cada policial recebeu U$S 100 por pistola e US$ 400 por fuzis e escopetas, pagos por um contrabandista.
A Polícia Civil desconfiou dos policiais uruguaios quando os nomes surgiram nos “grampos telefônicos”. Avisou a DNII do Uruguai, que começou a rastrear compras feitas pelos agentes do país vizinho.
O que ocorre na fronteira é transferência de mercadorias e serviços: transporte de drogas, armas e encomenda de execuções.
EDUARDO FINN
Delegado que indiciou 70 por tráfico de drogas e armas
Com base nas escutas da Polícia Civil e posterior rastreamento das armas no Brasil, feito pela PF, a DNII prendeu os três policiais, em 2015. Ficou comprovado que, do total de 353 armas adquiridas pelos três agentes, 344 são de calibre no Brasil (veja o gráfico abaixo). Mesmo assim, a maioria foi parar no Rio Grande do Sul, conforme informações dos uruguaios à PF. Pior: dessas armas, 21 são fuzis, com alto poder de destruição, preferidos das facções.
O agente Castrillón, por exemplo, foi seguido em 24 de novembro de 2014 pelos colegas policiais de Montevidéu até Rivera, onde guardou fuzis num depósito na rodoviária. Retirou o material e entregou ao contrabandista.
Pereira foi filmado com bolsas carregadas de fuzis, saindo de uma casa de armas em Montevidéu. Nas contas bancárias, foram rastreadas movimentações de milhares de dólares, incompatíveis com salários.
Os três policiais itiram ter revendido as armas, mas argumentaram não saber que os compradores eram bandidos. O trio foi condenado por tráfico internacional de armas e ficou menos de dois anos preso. Está em liberdade condicional desde 27 de abril de 2017. No Brasil, não pode se arriscar: está indiciado por contrabando e corre risco de condenação.
Além dos três já mencionados, um quarto agente uruguaio, não relacionado com o trio e radicado na Barra do Chuí, foi detido pela PF. Ele teria comercializado 70 armas, entre fuzis e pistolas, revendidas no RS. Somado ao arsenal do trio, o total de armas de uruguaios rastreadas no submundo do Estado soma 423.
O que disse o policial Juan Morales Castrillón:
Na Justiça, declarou ter comprado legalmente as armas para revendê-las e itiu saber que o comprador era relacionado a narcotraficantes brasileiros. Ele disse que tentou desistir das compras, mas foi ameaçado.
O que disse o policial Washington Oribe Rodriguez Pereira:
Na Justiça, itiu ter feito compras de armas em Montevidéu para um conhecido quadrilheiro e contrabandista uruguaio. Ele nega ter feito contrabando.
O que diz Juan José Arocena Fernandez:
A defesa não foi localizada. Em juízo, itiu que comprava armas, mas não sabia que seriam revendidas a criminosos.