Para quem trabalha na educação, cada novo dia guarda uma experiência diferente, um novo caminho a trilhar. E foi em busca de um novo começo que Élica Cavalheiro, 56 anos, deixou para trás 20 anos na área da saúde para seguir o sonho de se tornar professora.
Depois do diagnóstico e tratamento de um câncer, a hoje professora de séries iniciais decidiu que era hora de realizar um desejo antigo e seguir os os da mãe, que também trabalhou na área. Mas a nova jornada não foi fácil: por 11 anos Élica trabalhou como servente na Escola Estadual de Ensino Fundamental Abhramo Angelo Zanotto, na comunidade de São Roque, interior de o Fundo.
Foi nesse período que, aos 47 anos, ela voltou para sala de aula e ingressou no curso de Pedagogia. Com o apoio dos professores da Universidade de o Fundo (UPF), incentivo dos quatro filhos já formados e da nora — que também é professora —, se formou aos 51 anos.
Realização em sala de aula
Mulher negra e de classe trabalhadora, como ela mesma se define, aos 54 anos teve sua grande chance. E desde então atua na alfabetização de crianças dos 3º e 4º anos das escolas estaduais Monte Castelo e Lucille Fragoso de Albuquerque.

— Não existe idade ou falta de vontade, tem que ter força e mostrar. Há mais falta de oportunidade, por isso a importância do incentivo dos amigos e dos filhos — afirma sobre sua história.
Agora, seu objetivo de vida é ar todo o conhecimento que não teve o quando criança, incentivando os estudantes através dos ensinamentos, mas também de carinho, atenção e um abraço confortante.
— Sempre digo para os alunos “você é capaz, é inteligente e vai chegar lá!” — conta Élica, que não vê um futuro sem a educação. Mesmo próximo da idade para se aposentar, ela pretende continuar lecionando por muitos anos.
Desafios da profissão
Mas a realização de um sonho não vem sem percalços. A professora avalia que por causa da falta de investimentos na área e reajuste salarial, há cada vez menos interessados. Além disso, o desrespeito e episódios de violência em sala de aula agravam a situação.
Um estudo divulgado pelo Serviço Social da Indústria (Sesi-RS) estima que o Rio Grande do Sul terá déficit de 10 mil professores na Educação Básica em 2040. A pesquisa trata também do desinteresse pela licenciatura no RS.
Mas mesmo assim, apesar das dificuldades e da desvalorização que a classe enfrenta, para Élica, ser professora é um eterno aprendizado e uma constante busca por novas oportunidades em cada troca com os estudantes.
— Quando o aluno chega e diz que conseguiu ler e fazer contas, que está agradecido porque você acreditou nele. É isso que faz você brilhar — resume.