
Vindo de uma família com tradição de mais de 75 anos no comércio caxiense, Cassiano Ricardo Boff, 45 anos, deixou a movimentada Avenida Júlio de Castilhos, onde por anos auxiliou a famílias nas vendas da Sapataria Caxiense, optando agora pelo interior da cidade.
Veterinário e do Haras Verde Alvorada, é com o movimento dos cavalos campeiros que ele vem se tornando uma referência em negócios.
Recentemente, o haras que istra teve animais premiados nas principais categorias da 26º Exposição Nacional do Cavalo Campeiro, um dos principais concursos da raça. Neste mês de agosto, Boff se prepara para levar seus cavalos para a Expointer, de 27 de agosto a 4 de setembro, em Esteio.
Qual a origem dessa paixão por cavalos?
Nasci na cidade. A nossa família é do comércio. Mas eu nasci com esse dom, esse gosto pelos animais, especialmente os cavalos. Desde pequeno tenho isso. Ia muito para a chácara do meu avô, só que lá não tinha cavalo, mas eu já gostava. Foi na praia que tive o primeiro contato com aqueles que avam na areia. Até que decidimos comprar um cavalo. Nossa primeira égua foi comprada do seu Henrique Maurina, de Flores da Cunha, que é um antigo criador, em 1988. Depois compramos do Paulo Taddeucci e aí fomos entrando nas raças. Lembro que quando tinha, entre 10 e 13 anos, meu pai e irmão também começaram a gostar de cavalos e um dia compramos uma chácara aqui no condomínio Parque Alvorada. Teve um ano que compramos cinco cavalos. Começamos com um hectare, dois, três, e agora são 10. Então, aos poucos, fomos nos definindo por uma raça. E a gente começou pelo árabe. Meu pai investia na infraestrutura, e eu tinha que trabalhar na loja para economizar e poder comprar os cavalos. Tinha de achar tempo para cuidá-los, porque comércio se trabalha sábado, domingo, feriado... Em dias de semana, eu dava umas fugidinhas, por isso também compramos a chácara mais próxima da cidade para conciliar.
Com que raças de cavalo já trabalhou?
Trabalhei com Árabes, Crioulos, Quarto de Milha, Andaluz, Mangalarga e Campeiro. Me especializei primeiro nos Árabes. O primeiro a fazer sucesso foi o Ajax Magic. Esse ganhou muitas provas e assim eu ia mostrando para o pessoal que o cavalo Árabe não servia só para bonito. Eu comecei a mostrar que a genética dele era funcional, que eles fazem o mesmo que o Crioulo faz. A minha vida sempre foi dedicada a mostrar como uma raça de cavalo pode se destacar de diversas formas. Eu comecei com a Árabe que foi uma escola para mim. Fui expoente na região, fiz cursos em São Paulo, porque é uma raça internacional. Depois disso fui para o Campeiro. O crioulo hoje é o que predomina, mas quero mostrar uma raça nativa nossa da Serra, que é antiga, mas de registro mais recente se comparado ao Árabe que é milenar. Então eu entrei no Campeiro para ajudar a difundi-la. Aqui é muito pouco explorada pela sua potência na comparação com o que fazem outras regiões, como o Mangalarga em Minas Gerais. O Campeiro é também um marchador nacional que estava abandonado. Eu defendo a importância de resgatar e guardar esta raça. Hoje as pessoas estão vendo mais isso. Ele marcha solto, é superbacana a naturalidade desse gesto de marcha, que é usado para lidas de campo.
E como foi buscar especialização nesta área?
Mais ou menos quando eu tinha uns 24 anos fui estudar Veterinária. No primeiro semestre, eu continuei fazendo istração e peguei duas matérias de Veterinária para ver como é que era. Mas como eu já tinha meu irmão que enveredava para a istração do comércio da família, isso me ajudou a tomar a decisão de focar na Veterinária. E quando tu entras neste curso, acaba se direcionando e eu acabei escolhendo cavalo. Em uma turma de 60, tem 10 que vão para essa área. Na minha, foram três. Eu já tinha feito os cursos antes, eu já domava cavalo, já tinha animais treinados, campeões, tudo... Então, na faculdade, já tive facilidade. E, quando eu me formei, tinha amigos na área e clientes, e estava montando minha hotelaria de cavalos. Fui pedir ajuda novamente para o meu pai. Eu disse que, desta vez, não queria dinheiro. Queria que ele me ajudasse de outro forma, Ele sempre foi meio engenheiro, gostava de fazer desenhos das casas. Aí ele me ajudou a expandir a estrutura. E foi em 2011 que eu comecei a investir no Campeiro. Aí fomos a Curitibanos (SC), onde escolhi um cavalo de uma genética que eu já conhecia e que tinha características que eu gostava.
Quantos descendentes ele gerou e quantos animais você tem hoje?
Eu tive um azar com o primeiro. O cavalo ficou uma temporada aqui e não deu nem tempo de a gente levar ele para a primeira prova em campo. Ele caiu atrás da casa, quebrou a perna e foi preciso sacrificá-lo. Mas fiquei com dois descendentes dele muito bons. Um garanhão que é o Guapo da Alvorada, que foi campeão de marcha na Expointer em 2015. E uma filha, que é a Relíquia da Alvorada. Ela foi grande campeã e campeã de marcha e também é a mãe da Arrojada que venceu neste ano. O complexo aqui hoje tem 65 cavalos. Da minha criação, são 45.
Como esse negócio movimenta a economia regional?
Emprega muita gente indiretamente. Eu tenho um casal aqui que trabalha para mim diretamente, que mora aqui. Mas eu tenho também o ferrador, tenho dois treinadores, tenho fornecedores de ração. Inclusive sou responsável técnico de uma fábrica de ração, a Rações MB, de São Francisco de Paula.
E como é negociar algo que é uma paixão para ti, como não se apegar aos animais vendidos?
Sabendo que tu não crias eles para ti. Eu crio para o fortalecimento de uma raça. Se eu vendo um cavalo bom, eu fico feliz em acompanhar o crescimento dele. Eu não quero que esse cavalo, com potencial, fique comigo parado. Tenho que encontrar a pessoa certa para investir. Vendo quando sei que é para quem vai dar continuidade no trabalho que eu comecei quando eu tinha 12 anos. Ficava olhando revistas de cavalo. Eu não jogava videogame, eu estudava as linhagens, os cruzamentos. Eu não entendia de onde vinha isso, essa paixão, mas mais tarde descobri com um amigo meu, de São Gotardo em Flores da Cunha, que estuda imigração italiana, que somos descendentes do Vêneto, região que fornecia os cavalos para Roma. Aí tudo vai fazendo sentido...