
Dentro de um ateliê que pulsa ideias, tecidos e silêncios criativos, Guilherme Menegat Biondo e Martina Cambruzzi De Boni constroem algo que vai além da forma. Unidos na vida (eles são namorados) e no trabalho, o jovem casal é exemplo de como o afeto, o talento e a dedicação podem caminhar juntos, mesmo em um mercado tão exigente quanto o da moda.
Caxienses, Guilherme, filho de Juarez Antonio Biondo e Daniela Menegat Biondo, e Martina, filha de João Neves De Boni Júnior e Adriana Eloisa Cambruzzi De Boni, são fundadores e diretores criativos de suas próprias marcas, ele da Des Prezo, e ela da homônima. Embora com estéticas diferentes, se complementam em personalidade.
A sintonia entre os dois não aconteceu apenas no amor, mas também no propósito. Conheceram-se ainda na época da escola, mas foi na vida adulta, em um reencontro inesperado, que tudo começou a se alinhavar. — amos a noite inteira conversando sobre ideias, referências, projetos de vida e, no fim das contas, estamos juntos desde então — contam.
Martina, formada em Design de Moda, teve sua primeira fagulha criativa nas mãos da avó Bambina, ao tentar costurar roupas para suas Barbies na máquina de pedal. A conexão com o fazer manual se aprofundou no ateliê da dinda, Leandra Argenta. Já Guilherme cresceu entre modelistas e tecidos: frequentava, desde pequeno, a empresa do pai, a Mecatex. Por volta dos 15 anos, já ousava no vestir, expressando por meio das roupas sua personalidade artística, moldada também por referências da música, TV e videogames. — Percebia que, em tudo isso, o design estava presente — relembra.
A trajetória de ambos na moda é marcada por decisões corajosas e intuições afiadas. Martina estudou em Milão e pensava em trabalhar com grandes marcas internacionais, mas a pandemia a trouxe de volta ao Brasil — e talvez ao seu verdadeiro caminho. — Me vi sozinha em outro país e pensei: será que não é hora de começar o meu próprio negócio?
Guilherme, por sua vez, transformou a vivência com o pai e a paixão por criação em combustível para fundar a Des Prezo, que rapidamente ou a ocupar vitrines nacionais e chamou a atenção de artistas e das mídias internacionais.
No entanto, o brilho da criação tem seus bastidores: — Gerenciar um negócio envolve muito mais do que desenhar roupas — reflete Martina — É preciso fazer cálculos, manter uma comunicação constante com fornecedores, lidar com produção, prazos e pessoas. Apesar dos desafios — e talvez por causa deles — o casal segue lado a lado, respeitando os espaços e fortalecendo-se na troca diária. — É uma escolha consciente. E, sinceramente, não é para todo mundo — confessam.

Essa relação de cumplicidade se estende também aos processos criativos. Enquanto Martina é mais voltada ao desenvolvimento e à produção, Guilherme atua com foco na comunicação, conceito e visual. O equilíbrio entre o artístico e o comercial é uma equação em constante ajuste, mas feita com clareza e paixão. — A gente sabe que não se trata só de fazer o que gostamos, mas de criar algo que converse com o público e seja financeiramente sustentável — contam.
E por falar em público: tanto a marca de Martina quanto a Des Prezo encontram nas redes sociais uma ponte poderosa com seus consumidores. Ela mostra os bastidores, os acabamentos e a delicadeza do processo de criação. Ele transforma o Instagram em uma vitrine conceitual, onde mais de 80% das vendas da etiqueta são realizadas. — Acredito que é justamente essa atenção aos detalhes que nos torna únicos — comenta Guilherme.
Ambos estão agora em uma nova fase. Recentemente, mudaram-se para um espaço maior, de onde pretendem expandir suas grifes para além das fronteiras do estado. Guilherme deu um o importante ao entrar na Working Title, na Oscar Freire, em São Paulo. Martina, com um olhar voltado à moda sob medida e autoral, deseja explorar mais sua liberdade criativa e mergulhar em projetos ambiciosos.
No universo criativo de Guilherme e Martina, o amor não é só uma inspiração — é matéria-prima.
No cabideiro de Guilherme
- Um aprendizado valioso: organizar meu dia em tarefas e prever situações com antecedência.
- Meu lugar preferido é… de cidade, é Londres; mas de espaço, é minha casa.
- Livro de cabeceira: O Ócio Criativo, de Domenico De Masi.
- Que peça não pode faltar no guarda-roupas? Camiseta básica branca e preta.
- Minha inspiração na moda… os detalhes, cartazes rasgados, texturas de muros antigos, luzes de uma festa, a estética improvisada de uma cena urbana. Tudo, menos o óbvio.
No cabideiro de Martina
- Gostaria de saber antes… aceitar o inevitável e cooperar com ele. Afinal, qual a pior coisa que pode acontecer?
- Um objeto de desejo: Tabi boots, da Maison Margiela.
- Meu lugar preferido é… Milão.
- Que peça não pode faltar no guarda-roupas? Casacos longos, seja para o inverno ou meia estação.
- Minha inspiração na moda é… a vida. A maneira com que percebo o mundo, misticismo, expressionismo, anatomia e a beleza do ser humano.