Um espetáculo a céu aberto em meio à Sinimbu. O público que lotou as arquibancadas na Praça Dante Alighieri e os arredores de uma das principais ruas de Caxias do Sul testemunhou encantado o primeiro desfile da Festa da Uva 2024 na noite desta quinta-feira (15). E com uma novidade que quebrou uma tradição histórica. Diferente de todas as edições anteriores, quando apareciam no encerramento do corso alegórico, o carro com a rainha Lizandra Mello Chinali e as princesas Eduarda Ruzzarin Menezes e Letícia de Carvalho veio logo na abertura, preparando os espectadores para o que viria em cerca de uma hora de dança, teatro, arte circense e muita música.
O desfile deste ano foi inspirado nos sonhos dos imigrantes que chegaram à Serra gaúcha em 1875, deixando a Itália projetando uma realidade fantástica para fugir da fome, em uma travessia de muito sofrimento e angústia que os esperava até o Brasil. Dividido em três parte, os trabalhos começaram pela ala Cucagna andove se sogna, uma fusão do mundo imaginário atrelado à vida real. Em seguinda, Cucagna andove se magna trouxe a concretização dos sonhos. Por fim, Cucagna andove se fà festa marca a alegria da realização de tudo que encontraram e vivenciaram. São 1.200 figurantes de 51 grupos artísticos, além de 9 comunidades caxienses representadas.
A secretária de Cultura de Caxias do Sul e diretora do Corso Alegórico, Cristina Nora Calcagnotto, conta que a ideia do tema do desfile surgiu a partir da revisão e estudo de datas comemorativas e acontecimentos históricos do município, e do próprio resgate da festa, tentando fazer uma variação de um assunto já tão abordado.
— Contar com a dramaturgia e elementos cênicos a realização de sonho que chegou aqui há tanto tempo. O sonho dos imigrantes italianos que fizeram este lugar. Mostrar o desenvolvimento regional a partir dessa chegada. Um desfile com pés no chão, com os recursos disponíveis, tanto humanos, quanto financeiros, mas que preserva a memória e valoriza a cultura e as pessoas — analisa Cristina.
Comunidade mais uma vez abraçou o evento
Na busca por um desfile sensível e feito para superar a expectativa do público, o principal desafio foi arquitetar entre tantas cenas a dramaturgia necessária. É o que revela o diretor cênico do corso, Fábio Cuelli.
— Falar da história de Caxias e de uma tradição recontada com novidades e privilegiando a alegria, a festa. A gente teve a sorte de contar com muitos grupos artísticos da cidade e seus distritos, que criaram a partir do roteiro que foi dado. A construção de cada carro também foi pensada para interagir com o público. Não teria como desenvolver o desfile sem a participação e doação das comunidades, as quais todos nós somos eternamente gratos — aponta Cuelli.
O próximo desfile está agendado para sábado (17) às 20h. Ao todo, serão seis edições. A última está programada para o dia 2 de março. O investimento total, com arquibancada, luz, som, figurino e toda a estrutura necessário será de R$ 1,9 milhão.
A dança que leva ao reinado

Considerar que ballet e desfile da Festa da Uva são coisas distintas é, no mínimo, desconhecer a história do evento. Não bastasse a participação sagrada de várias escolas do gênero no corso alegórico, uma delas é uma verdadeira fábrica de rainhas. No comando do trio de soberanas da 34ª edição, Lizandra Mello Chinali foi dançarina da Dora Ballet, onde desfilou em diversas oportunidades em aberturas. Antes dela, Deliz De Zorzi (1989), Patrícia Roth dos Santos (1998) e Roberta Veber Toscan (2012) também fizeram parte do grupo.
Integrantes do Dora Ballet e amigos e colegas de Lizandra por anos e festas consecutivos, Alana Bof e Wellington de Lima Modelski abriram o corso desta noite ao lado da rainha. E ressaltam a emoção de estarem presentes em um momento marcante para o grupo, além de recordar boas histórias.
— Eu lembro de uma vez em que fomos convidados para dançar na escolha da rainha, e no mesmo dia tínhamos outro evento em São Leopoldo. A Lizi fez questão de estar na Festa da Uva, não tinha outra opção. Desde lá, a gente via o interesse dela por todo esse mundo — conta Alana.
Para Wellington, testemunhar o crescimento da antiga companheira de escola vale todo o esforço.
— Eu sempre me diverti muito dançando na Festa da Uva, mas estar desfilando ao lado do carro de alguém tão importante é muito emocionante. É muito legal ver a evolução da Lizandra, e com papéis tão grandes. Era sempre divertido estar com ela, e está sendo novamente — diz o bailarino.
Quanto a Lizandra influenciar futuras dançarinas a se tornarem rainhas, Wellington não deixa por menos.
— Ânimo não falta — encerra.
Do Rio de Janeiro para a Serra e o desfile

Dizem que a quarta vez é a da sorte. Ao menos foi para o casal de aposentados Fidelis e Regina Brandão, que depois de três visitas a Caxias do Sul sem conseguir acompanhar o desfile da Festa da Uva, pode conciliar o turismo e estar presente na edição de abertura.
Vindos da cidade de São João da Barra, no interior do Rio de Janeiro, estão ando por vários lugares na Serra, e fizeram questão de acompanhar o corso alegórico.
— A gente ama a Festa da Uva. Sempre falávamos de ver o desfile e nunca dava certo. Mas na quarta vez aqui, aconteceu. Agora é comer bastante uva e aproveitar esta alegria — comenta Regina, fã da fruta e com dois cachos à mão.
O casal viaja acompanhado de outros 22 cariocas, todos presentes no desfile.
— Aposentado tem mais é que viajar e curtir. É sempre bom estar em Caxias. Vamos voltar muito ainda — conta Fidelis.