Quem esteve no Santuário de Caravaggio, em Farroupilha, no último final de semana, percebeu o fluxo constante nos três dias de celebração. Contudo, o público de 65 mil pessoas, divulgado no balanço da Brigada Militar (BM), representa um dos menores já registrados nas romarias.
Dados históricos de antigas edições analisados pela reportagem, indicam que a 146ª romaria, ocorrida neste ano, foi a segunda com menor público desde o ano 2000. Excluindo os anos de 2020 e 2021, totalmente impactados pela pandemia, e a necessidade de não aglomerar, a romaria de 2024 teve o menor público do Santuário, com 40 mil participantes.
A queda no número de romeiros não é um fenômeno isolado do pós-pandemia. Desde o ano 2000, a quantidade de pessoas que se envolve na caminhada oscila. No ano 2000, aproximadamente 200 mil pessoas participaram dos três dias de peregrinação. Entre 2004 e 2005 houve aumento de 100 mil participantes na celebração religiosa, saltando de 180 mil para 280 mil.
O crescimento seguiu até 2007, quando 315 mil pessoas estiveram participaram da peregrinação. O auge das romarias foi em 2009, quando 380 mil fiéis lotaram o santuário. Contudo, o público acima de 300 mil pessoas se manteve apenas até 2011.
Nos anos seguinte, o número se manteve na casa das 200 mil pessoas até 2015. No ano seguinte, houve uma redução para 180 mil pessoas, seguindo a queda até 2020, quando aconteceu a pandemia.
Em 2022, quando a romaria foi retomada, cerca de 100 mil pessoas estiveram em Farroupilha. Apesar da recuperação, o total de visitantes voltou a cair em 2023 e seguiu em queda até esta edição, quando atingiu 65 mil pessoas.
Perspectivas do antes
Reitor do Santuário entre 2000 e 2013, o padre Volmir Comparin vivenciou os anos de romaria com maior volume de visitas. Segundo ele, o grande público de 2009, de 380 mil pessoas, foi reflexo de uma coincidência: o feriado de Corpus Christi celebrado em 26 de maio.
— Esse feriado nacional acabou fazendo com que muitas pessoas viessem até o Santuário em apenas um dia. Depois, as pré-romarias ganharam força, justamente para evitar essas aglomerações — detalha.
Ainda, o padre destaca o fator climático como um ponto à favor das celebrações. Conforme ele, em 13 anos no Santuário, apenas uma edição da romaria teve chuva e, mesmo assim, a instabilidade foi parcial, comprometendo uma manhã.

À frente do Santuário entre 2014 a 2022, o padre Gilnei Fronza relembra das edições durante a greve dos caminhoneiros e a pandemia, momentos de extrema dificuldade em receber o público.
— Certamente, as mudanças climáticas estão interferindo, temos visto romarias com mais chuva. São cinco anos que o Santuário está se recuperando de todos esses episódios. Mas acredito que vamos escalar novamente, teremos mais romeiros. Contudo, é importante lembrar que a missão do Santuário é atender a pessoa, não as massas.
Pré-romarias como segmentação do público
Em crescimento há mais de 10 anos, as pré-romarias têm ganhado força entre os fiéis como uma alternativa para celebrar Nossa Senhora de Caravaggio em datas específicas. Ao mesmo tempo em que os eventos atraem diferentes público ao Santuário, acabam segmentando o grande evento em romarias de pequeno e médio portes.
Coordenador da Pré-Romaria dos Motociclistas, que nesse ano completou 47 edições, o padre Norberto Coltro, observa que o movimento não apenas se consolidou, mas atrai público de diversas cidades que nem sempre participam da tradicional romaria.
— É um evento que conquistou um público específico. Quem vai na pré-romaria dos motociclistas já reserva essa data e prefere participar deste momento do que da grande romaria. Anos antes da pandemia era comum ver grupos de cidades mais distantes, como Nova Prata e Vacaria por aqui, pessoas que nem sempre estariam na romaria — pontua.

Desde 2014, seis novas pré-romarias foram criadas, abrangendo grupos que já participavam do evento. É o caso das pré-romarias das Crianças e das Pessoas com Deficiência, nas quais os públicos possuem maior independência para peregrinar.
— Para qualquer pessoa com deficiência, ir até Caravaggio no dia da festa principal é muito complicado justamente pelo maior movimento. Temos relatos de romeiros que, antes, iam até o Santuário no carro devido a essa situação. Hoje, com a pré-romaria, eles conseguem efetivamente participar. E temos visto maior adesão — explica o coordenador Giovani Capra.
Novo momento no Santuário
A dinamicidade da expressão da fé tem transformado as romarias e os momentos de devoção. Para o reitor do Santuário, Padre Ricardo Fontana, os fiéis mantêm o elo com Caravaggio, contudo se reúnem em momentos singulares.
— Caravaggio não é mais aquelas grandes romarias. As próprias pré-romarias são um processo intenso, que atraem grandes públicos em diferentes dias. Mas não podemos considerar que o público de 65 mil pessoas seja pouco, até porque o Santuário como um todo têm recebido muitos fiéis ao longo do ano.
Segundo o reitor, de 1º de janeiro até 26 de maio, cerca de 550 mil pessoas já aram pelo Santuário em Farroupilha. O cálculo leva em conta as comunhões distribuídas nas missas. Para cada hóstia dada, o número é multiplicado por quatro visitantes.
— É uma estimativa que fazemos, porque tem muitas pessoas que vêm ao Santuário e não comungam. Tem crianças, pessoas de outras religiões... Mas, o fato é que temos intenso movimento aqui para além da romaria. Tanto que esperamos ultraar um milhão de visitantes (até o final deste ano).