Vendas tímidas, desconhecimento do público sobre o local e expectativa pelo sucesso. Essas são as avaliações dos comerciantes que ocupam as bancas do Centro de Capacitação e Comércio (CCC) de Caxias do Sul, espaço inaugurado há um mês para realocar das calçadas os ambulantes.
O estabelecimento fica no prédio do Caxias Plaza Shopping, na Rua Sinimbu, e tem capacidade para 47 bancas, contudo, parte delas ainda está vazia. No andar superior, o CCC, que tem gerência da Secretaria do Turismo e Desenvolvimento Econômico, em parceria com o Sebrae, também promove cursos de capacitação.
Na banca 10, o peruano Francisco Rivera, 51 anos, acredita que o baixo movimento de clientes pode ser em função do desconhecimento do público sobre o centro comercial. Para o vendedor de roupas, precisa ocorrer uma divulgação mais intensa:
— Para todo mundo (vendedores) está sendo devagar, foi fraco este primeiro mês. Até todo mundo conhecer vai custar um pouco.

Chico, como também é conhecido, mora há 20 anos em Caxias e não esconde a preocupação com as contas e despesas com a família — esposa e duas filhas crianças. Além disso, há novos compromissos: os comerciantes do local foram regularizados como microempreendedores individuais (MEIs), serviço que tem mensalidade de R$ 75,90, e, progressivamente, vão pagar aluguel.
Nesse primeiro ano, segundo a secretaria do Turismo e Desenvolvimento Econômico, os ex-ambulantes pagam de R$ 379 a R$ 529 mensais referentes à metragem da banca, enquanto a prefeitura subsidia o condomínio da área. A partir do quarto ano, está prevista a cobrança de 100% do aluguel e do condomínio.
— A estrutura está indo bem, pelo menos não estamos no frio e na chuva — elogia Chico, lembrando de episódios em que o céu fechava com nuvens carregadas e ele tinha que recolher rapidamente as mercadorias da calçada.

"As pessoas estão conhecendo aos poucos"
A maioria dos clientes que caminhava pelos corredores do CCC, em uma manhã desta semana, observava os itens à venda e tirava dúvidas com os proprietários das bancas, em uma espécie de "reconhecimento do terreno".
A nutricionista Indianara Branco, 38, contudo, conhece os comerciantes de quando estavam instalados na Rua Dr. Montaury, a poucos metros dali. Isso a levou ao novo centro comercial decidida a comprar um tênis para o filho, Andryo Melo, 12.
— O espaço está bem organizado, distribuído, interessante. É maior aqui do que na rua — compara a mãe, enquanto o menino provava os sapatos.
Na entrada do CCC, com espaço para exposição na vitrine, está a banca 1, sob responsabilidade do senegalês Abib Diallo, 39. Quem a por lá encontra camisetas, calças, bonés e aparelhos eletrônicos.
Diallo considera que o final do mês ado foi "parado" e espera um desempenho mais positivo para os próximos dias.
— Está indo devagar. Com uma mudança, sempre vai demorar. As pessoas estão conhecendo, tenho certeza que daqui a pouco vai ser bom. Posso falar que 40% das pessoas sabem que estamos aqui. Falta 60%. Com mais tempo, vão saber que estamos aqui. — projeta.
Microcrédito e cursos aos comerciantes
O secretário-adjunto do Turismo e Desenvolvimento Econômico, Silvio Tieppo, afirma que, com base em pesquisa interna, os ex-ambulantes estão gostando do CCC.
— As vendas para alguns foi melhor e para outros ainda não está como deveria — salienta.
A pasta firmou um acordo com o Sebrae para promover sete cursos anuais aos comerciantes nas temáticas de gestão, marketing e finanças. O primeiro deles está marcado para os próximos dias 20, 21 e 22, com o foco em transformar o espaço comercial para vender mais.
Paralelo a isso, o CCC dispõe de cursos à comunidade em geral e abriga o Banco do Vestuário. Mais de 200 pessoas já foram capacitadas nessas iniciativas, conforme a secretaria do Turismo e Desenvolvimento Econômico. Neste link, você confere quais oportunidades estão disponíveis.

Entre as novidades, Tieppo cita que a pasta está desenvolvendo com o Banco da Família um projeto para ofertar microcrédito, com juros baixos, aos vendedores. O intuito é aquecer a aquisição de uma maior diversidade de produtos, garantir que os ex-ambulantes consigam cumprir com as despesas — especialmente neste início — e melhorar o desempenho do CCC como um todo.
Na terça-feira que vem (13), uma reunião deverá definir qual o valor do aporte para a iniciativa. O empréstimo será de responsabilidade dos comerciantes — a disponibilidade do recurso ficará à critério do banco, a partir de avaliações.
— Temos muitos desafios, mas estamos trabalhando para que seja um local de acolhimento, e e auto sustentabilidade — sustenta o secretário-adjunto.
Regimento interno para condição de "shopping"
A prefeitura contratou uma consultoria do Sebrae para elaboração de um regimento interno que dará ao CCC, de acordo com Tieppo, a condição de "shopping". O documento deverá conter diretrizes como zelar pela limpeza e organização da área comum; respeitar o limite de cada banca; não obstruir o eio do cliente ou visitante e horário de funcionamento mais atrativo (atualmente, é das 9h às 19h durante a semana).
A ideia é que a partir de um regimento interno, o CCC também possa convocar eventos culturais promovidos pelo município, como uma atração da programação da Festa da Uva, propõe Tieppo:
— Para que eles se sintam acolhidos não só no espaço, mas sim, que façam parte da cidade como um todo. O regimento de um shopping muda, mas não tanto, é só a dimensão, o tamanho do local. Os cuidados que um shopping tem também deve ter uma simples galeria.
O secretário-adjunto prevê que no início do mês de junho o regimento interno esteja concluído. Até o momento, quatro reuniões foram promovidas para discutir, entre outros tópicos, o layout do espaço.