
Com apenas um homicídio registrado neste ano, Farroupilha alcançou o menor índice de ocorrências de crimes violentos letais intencionais (CVLIs) entre as 23 cidades monitoradas com prioridade pelo programa RS Seguro, do governo do Estado.
Os CVLIs se referem aos casos em que uma pessoa é morta de forma violenta, como homicídios, latrocínios e feminicídios.
O reconhecimento a Farroupilha leva em conta o recuo expressivo no número de homicídios. Em 2022, a cidade da Serra vivia seu período recente de maior violência, com 26 casos — 17 deles contabilizados somente até maio daquele ano.
De lá para cá, uma redução contínua é observada: 15 CVLIs em 2023 (queda de 42,3%); sete em 2024 (diminuição de 73% em relação a 2022); e, um no ano vigente (recuo parcial de 96,1%, também em comparação a 2022).
A lista de 23 municípios — que além de Farroupilha, inclui Bento Gonçalves e Caxias do Sul — recebe ações mais enérgicas e planejamento constante das forças de segurança porque concentra 72,2% das mortes violentas ocorridas no Estado entre 2009 e 2018, segundo o RS Seguro.
Além disso, essas cidades, responsáveis por 49% da população gaúcha, reúnem 91% dos roubos de veículos e 90% dos roubos a pedestre. São os indicadores ligados à "sensação de segurança" da comunidade, explica o secretário-executivo do programa, Antônio Padilha.
Na contramão, Farroupilha registrou, até 26 de maio, cinco roubos a pedestre — o recorde foi em 2017, com 206 ocorrências — e três roubos de veículos — de 2014 a 2019, a média desse crime foi de 70,6 casos por ano. Após contar com 268 furtos de veículos em 2016, o município viu esse crime chegar a 49 incidentes em 2024, uma regressão de 81,7%.
— É um conjunto de iniciativas com a governança do RS Seguro. Tem uma ferramenta (a Geseg, Gestão de Estatística em Segurança) que é utilizada para acompanhamento das mesmas informações e identificação dos problemas. Obrigatoriamente, uma vez por mês, há reunião para análise dos dados, identificação de inflexões e, em conjunto, o desenvolvimento de medidas para resolução — afirma Padilha.
Integram as ações a Brigada Militar (BM), Polícia Civil (PC), Instituto-Geral de Perícias (IGP), Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe)/Polícia Penal e Corpo de Bombeiros, com troca de informações com Ministério Público e Poder Judiciário.

Cidade mapeada
O delegado de Farroupilha, Fernando Cruz Alexandre, aponta que os órgãos de segurança, como a Polícia Civil, mantêm um mapeamento da cidade para acompanhar os indicadores criminais e atuar com uma resposta conjunta.
Ele destaca celeridade e urgência empenhadas nas investigações com o objetivo de alcançar quem executa e quem ordena os crimes. Conforme Alexandre, a maioria dos homicídios em Farroupilha está ligada ao tráfico de drogas.
— Dificilmente um cidadão que não está envolvido em atividades criminosas vai ter sua vida ceifada — garante.
Dentro dos CVLIs, o município não registra latrocínio ou feminicídio em 2025. Este último crime, baseado no gênero — e que esteve em evidência no Estado em abril — não ocorre desde 2023, ocasião em que um suspeito foi preso por ass Ingrid Daiane da Silva Borges, 25, com mais de 20 facadas.
Além desse caso, Farroupilha atendeu, desde 2010, a um feminicídio em 2018 e a outro em 2020, contextualiza o delegado:
— Isso demanda muito trabalho, controle, fiscalização das medidas protetivas de urgência (MPUs) e representação preventiva. Nas últimas semanas, três foram presos por descumprimento de MPU.
Alexandre também atribui aos bons números a execução da operação Molotov, em dezembro de 2024, que cumpriu mandados de busca e apreensão e atuou com prisões preventivas e em flagrante. Um núcleo criminoso atuante em Farroupilha, e responsabilizado por envolvimento direto em parte dos CVLIs do ano ado, foi preso.

Integração
A chave para o desempenho positivo na segurança é a integração entre os órgãos, confirma o comandante do 36° Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Giovani Gomes.
Um exemplo são as visitas aos apenados com tornozeleira eletrônica, em regime semiaberto, com apoio da Polícia Penal. Nesse mesmo campo, a Brigada Militar também monitora quando indivíduos podem ser soltos após cumprir pena e quando estão nas ruas.
Gomes cita a produção de relatórios técnicos e de inteligência desde 2022, por meio do RS Seguro, como essencial para a prevenção de crimes, permitindo a aproximação do policiamento em pontos de calor das ocorrências.
— Tivemos a captura de 25 foragidos, a prisão de 46 indivíduos por tráfico e as apreensões de 16 quilos de droga e 18 armas de fogo. Para Farroupilha, com 75 mil habitantes, é um trabalho interessante para a sensação de segurança e em prol da comunidade — avalia o comandante.
A BM de Farroupilha atua, ainda, com a operação Barreiras, que, como o nome sugere, faz abordagens para identificação de suspeitos, foragidos e veículos.

Único registro
O único homicídio do ano em Farroupilha ocorreu em março. Kauanny Velho de Lima, 21 anos, natural de Caxias, foi encontrada morta no bairro farroupilhense Industrial, na tarde do dia 24. O corpo estava em avançado estado de decomposição.
Kauanny estava desaparecida desde o dia 16 daquele mês, quando saiu de casa, no bairro Santa Fé, em Caxias, para realizar uma telentrega na cidade vizinha.
As circunstâncias do crime ainda estão em investigação. O delegado Alexandre entende, preliminarmente, que o homicídio não tem relação com o tráfico de drogas.