Antonio Palocci: um delator no coração do PT
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Nos bastidores, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad seria o preferido de Lula para concorrer ao Planalto caso ele próprio seja inviabilizado. Há dúvidas, porém, se Haddad terá a "coragem" suficiente, nas palavras de um dirigente, para dar as costas ao discurso ético e defender o partido, um dos mais implicados no maior caso de corrupção da história do país, o dos desvios na Petrobrás. Alguns petistas acham que Haddad pode até apresentar reservas em defender Lula na intrínseca relação de amizade e troca de favores com empreiteiros já condenados pela Justiça.

Além disso, Haddad é definido por integrantes da cúpula do PT como "Dilma de saia". Trata-se de uma referência ao que muitos classificam como falta de jogo de cintura política da presidente cassada Dilma Rousseff. Na avaliação de dirigentes da sigla, principalmente os alinhados à tendência majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), tanto Haddad quanto Dilma são "incontroláveis".

A favor de Haddad, no entanto, pesa a opinião de Lula, que vê numa eventual candidatura do ex-prefeito condições de produzir um discurso sob medida para a classe média e a juventude desencantada.

A atual estratégia do PT, no entanto, ainda consiste em embalar a pré-campanha de Lula com a narrativa de que ele é vítima de "perseguição política". Na quarta-feira, o ex-presidente será ouvido novamente pelo juiz Sérgio Moro – que já o condenou no caso do triplex –, desta vez no processo referente a propinas pagas pela Odebrecht.

A ideia do partido é bater na tecla de que, se Lula não puder ser candidato, a eleição de 2018 não terá legitimidade.

Para desestimular Haddad de disputar voos mais altos, um grupo do PT ofereceu a ele a candidatura ao Senado. Discípulos do fogo amigo contra o ex-prefeito dizem, ainda, que o ex-ministro Jaques Wagner – hoje secretário estadual na Bahia – tem mais "perfil" para entrar no lugar de Lula, se for preciso.

– O plano A é Lula e não existe essa história de plano B – diz Haddad, sempre que é questionado sobre o assunto. – O foco do PT, agora, deve ser lutar pela revisão da sentença que o condenou injustamente e descaracterizar o depoimento de Palocci, que não tem fundamento – afirma o ex-prefeito.

A avaliação, no entanto, é de que Palocci não teve a mesma "estatura moral" que o ex-ministro José Dirceu e os ex-tesoureiros do partido Delúbio Soares e João Vaccari Neto, que mesmo depois de presos não "entregaram" colegas. Para petistas, Palocci agiu de caso pensado para construir um discurso que agradasse ao Ministério Público e Moro e, assim, agilizar as negociações do acordo.

No PT já surgiram algumas vozes pedindo a expulsão do ex-ministro, mas a cúpula do partido afirma que o assunto não foi discutido e que, se entrar em pauta oficialmente, vai obedecer a todos os trâmites com a garantia da ampla defesa.

– Há uma troca de mensagens nas redes sociais entre militantes e dirigentes discutindo o momento mais oportuno para uma expulsão. Não deve demorar. Existe um consenso se formando – afirmou o deputado estadual José Américo (SP). Para o deputado, ao assumir a  postura de delator, Palocci está dando "adeus" à política.

A reação será manter a mobilização de apoio ao petista nas ruas. O próximo o será mobilizar a militância para dar uma demonstração de apoio a Lula em Curitiba na próxima quarta-feira, quando ele estará novamente cara a cara com o juiz Sérgio Moro.

A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e o ex-ministro Aloizio Mercadante por obstrução à Lava Jato será encaminhada à primeira instância da Justiça Federal, por decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Relator do inquérito, Fachin contrariou o pedido do procurador, que queria o processo no STF. O ministro determinou a remessa do caso à Justiça Federal do Distrito Federal, por não haver autoridade com foro privilegiado entre os denunciados. As defesa de Lula, Dilma e Mercadante negam a acusação. 

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