Resposta das autoridades ao artigo
A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) determinou, nesta terça-feira (2), que o Google sinalize como "publicidade" os conteúdos que estão sendo produzidos e veiculados pela plataforma com críticas ao Projeto de Lei (PL) das Fake News. A decisão foi comunicada em coletiva de imprensa pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, e pelo titular da Senacon, Wadih Damous.
O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), anunciou ter solicitado abertura de inquérito istrativo no Conselho istrativo de Defesa Econômica (Cade) para investigar possível infração contra ordem econômica por abuso de posição dominante praticada pelo Google.
O Ministério Público Federal (MPF) emitiu, na segunda-feira (1º), ofício que questiona o Google sobre um possível favorecimento, nos resultados de busca, a conteúdos que sejam contrários à proposta. O órgão usou como base um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que monitorou os conteúdos exibidos após a pesquisa de informações sobre o PL 2630. O MPF deu um prazo de 10 dias para que o Google esclareça os critérios usados nos resultados de busca. Em nota, o Google negou as alegações.
O MPF também expediu um documento solicitando informações da Meta, empresa dona do Facebook, sobre os anúncios contratados pelo Google na plataforma.
Dois dias antes da publicação do Google, a Meta, empresa que engloba as plataformas Facebook, Instagram e WhatsApp, também publicou comunicado oficial criticando a possível aprovação do PL 2630/2020.
O artigo destaca pontos que, na visão da Meta, são problemáticos, assim como apontado pelo Google. Veja os pontos:
O Twitter é outro gigante da tecnologia que tem se mobilizado contra a aprovação do PL 2630/2020. A empresa publicou um manifesto conjunto contra o projeto em fevereiro de 2022, afirmando, na época, que o PL "deixou de ser sobre combater as fake news". Além do Twitter, também assinam o comunicado "Facebook / Instagram", "Google" e "Mercado Livre".
O artigo, em grande parte, traz argumentos que coincidem com os pontos mais recentemente apresentados por Google e Meta. Veja os destaques:
Na quarta-feira (26), representantes do Twitter na América Latina fizeram uma reunião com parlamentares que também são contrários ao projeto, Nikolas Ferreira (PL-MG) e Caroline de Toni (PL-SC), para reforçar a posição.
O texto apresentado por Orlando Silva prevê que, em caso de descumprimento da Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet e risco aos direitos fundamentais da população, a fiscalização dos provedores (redes sociais, aplicativos de mensagem instantânea a ferramentas de busca) será realizada nos termos de regulamentação própria.
O parecer final do relator também estabelece que os provedores têm o dever de cuidar do conteúdo publicado: agir de forma diligente para prevenir ou reduzir práticas ilícitas no âmbito do seu serviço, com o combate a publicações que incitem crimes de golpe de Estado, atos de terrorismo, suicídio ou crimes contra a criação e adolescente.
Mecanismos de moderação de conteúdos considerados ilegais
As big techs ficariam obrigadas a criar mecanismos para que os usuários denunciem conteúdos potencialmente ilegais. Deverão ainda cumprir regras de transparência; submeter-se a auditorias externas; e atuar contra os riscos sistêmicos dos algoritmos que possam levar à difusão de conteúdos ilegais ou violar a liberdade de expressão, de informação e de imprensa e ao pluralismo dos meios de comunicação social ou de temas cívicos, político-institucionais e eleitorais.
As empresas poderão ser responsabilizadas na Justiça por danos causados por meio de publicidade de plataforma e pelo descumprimento das obrigações de combater conteúdo criminoso. Já os usuários afetados pela remoção de conteúdo deverão ser notificados pela empresa para que possam recorrer da decisão.
São considerados "ilegais", segundo o projeto, conteúdos que configurem:
As possíveis sanções às empresas responsáveis, previstas no projeto, são:
Publicidade digital
A publicidade digital, se o PL for aprovado, deverá permitir a identificação do anunciante e do responsável pelo impulsionamento de conteúdo. Por sua vez, o usuário precisaria ter à disposição as informações do histórico dos conteúdos publicitários com os quais a conta teve contato nos últimos seis meses. Além disso, o compartilhamento de dados pessoais dos usuários para usos mercadológicos deverá cumprir as regras da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Conteúdo jornalístico e direitos autorais
A proposta determina que os provedores remunerem o conteúdo jornalístico e os conteúdos protegidos por direitos autorais. O projeto prevê que "conteúdos jornalísticos utilizados pelos provedores produzidos em quaisquer formatos, que inclua texto, vídeo, áudio ou imagem, ensejarão remuneração às empresas jornalísticas". A forma dessa remuneração, caso o projeto seja aprovado, deverá ser determinada pela regulamentação posterior. O texto do projeto destaca ainda que "a remuneração não deve onerar o usuário final que a e compartilha sem fins econômicos os conteúdos jornalísticos".
O projeto ressalta também que "a regulamentação a que se refere esse artigo deverá criar mecanismos para garantir a equidade entre os provedores e as empresas jornalísticas nas negociações e resoluções de conflito, sem prejuízo para as empresas classificadas como pequenas e médias, na forma do regulamento", e que "o provedor não poderá promover a remoção de conteúdos jornalísticos disponibilizados com intuito de se eximir da obrigação de que trata este artigo, ressalvados os casos previstos nesta Lei, ou mediante ordem judicial específica".
Entidade fiscalizadora
O relator Orlando Silva retirou, em seu último parecer, a previsão de criação de uma entidade autônoma fiscalizadora, que funcionaria como uma espécie de agência reguladora formada por integrantes do Executivo. A nova estrutura responsável por esta atividade está pendente, e será debatida entre os líderes partidários. Uma das possibilidades é destinar a função à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).