Reflexo do pai de Mauro Cid em foto usada para negociação de escultura vira prova para PF.

O indiciamento ocorreu na esteira da Operação Lucas 12:2, que apontou indícios de que Bolsonaro, seu ex-ajudante de ordens - Mauro Cid - e outros dois assessores do ex-chefe do Executivo "atuaram para desviar presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente para posteriormente serem vendidos no Exterior". A PF atribui a Bolsonaro e a seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, os crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Segundo a corporação, os dados analisados no bojo do inquérito indicam a possibilidade de o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência — responsável pela análise e definição do destino (acervo público ou privado) de presentes oferecidos por autoridade estrangeira ao presidente — "ter sido utilizado para desviar, para o acervo privado, presentes de alto valor, mediante determinação" de Bolsonaro.

As joias mencionadas são presentes recebidos pelo ex-presidente, enquanto chefe de Estado, por autoridades da Arábia Saudita e do Bahrein. No inquérito, a PF apresenta provas de que alguns desses itens foram retirados do Brasil durante missões oficiais e depois foram comercializados em lojas nos Estados Unidos.

O processo foi encaminhado à PGR em julho de 2024, que ainda avalia se apresenta denúncia, se pede novas diligências à PF ou se solicita o arquivamento.

Fraude no cartão de vacinação

Reprodução / Polícia Federal
Diálogo obtido pela Polícia Federal mostra filha do então secretário de Duque de Caxias pedindo que pai não falsifique seus registros de vacina.

Bolsonaro foi indiciado em inquérito que investiga a fraude de cartões de vacinação da covid-19. A PF atribui os crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação ao ex-presidente, Cid, ao deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ), além de outras 14 pessoas.

Conforme o material entregue à PGR, o objetivo do grupo era burlar as restrições sanitárias relacionadas ao coronavírus. O foco eram as medidas impostas por poderes públicos que obrigavam o registro de vacinação contra o vírus.

De acordo com os dados fraudados, Bolsonaro teria se vacinado em Duque de Caxias (RJ). A defesa alega que ele não participou do esquema, pois não tinha necessidade do comprovante de vacinação, por ter aporte diplomático. Apesar disso, foram registrados os e emissão do certificado de imunização no aplicativo ConecteSUS com IP do Palácio do Planalto, horas antes do ex-presidente viajar para os Estados Unidos.

Em abril de 2024, a PGR pediu uma nova apuração da PF para saber se os certificados foram utilizados no momento do embarque. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, considera que a informação é importante para determinar quais crimes podem ter sido cometidos.

I da Covid

Além dos inquéritos apresentados pela PF à PGR, ainda há o da I da Covid que corre no STF. Este terceiro está parado desde junho de 2023, quando o ministro André Mendonça pediu vistas do processo.

O inquérito foi aberto a partir do relatório final da I no Congresso. Ele investiga eventuais crimes cometidos por Bolsonaro durante a pandemia.

Decisão do TSE: inelegibilidade

Sergio Lima / AFP
Decisão pela inelegibilidade até 2030 foi proferida em sessão de 30 de junho de 2023.

Além dos indiciamentos, ex-presidente já acumula uma condenação. Ele está inelegível até 2030, após decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em junho de 2023, a maioria dos ministros reconheceu a prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, para espalhar desinformação sobre o sistema eletrônico de votação, e atacar o tribunal na tentativa de ter ganhos eleitorais, por parte de Bolsonaro.

Outras investigações

Inquérito nº4.878 — Vazamento ilegal

Instaurado por determinação do Tribunal Superior Eleitoral, apura ação de Bolsonaro em vazamento de informações sigilosas sobre inquérito da PF que investiga ataque hacker à Corte em 2018.

Inquérito nº 4.874 — Milícias digitais

Originado no extinto inquérito que apurava atos antidemocráticos, investiga atuação de Bolsonaro em uma rede que usa redes sociais para disseminar desinformação.

Inquérito nº 4.831 — Interferência na PF

Apura influência de Bolsonaro sobre a cúpula da Polícia Federal após quatro trocas no comando da instituição, com suposto objetivo de blindar familiares e aliados políticos.

Inquérito nº 4.781 — Fake news

Instaurado de ofício em 2019 pelo então presidente do STF Dias Toffoli, apura disseminação de mentiras e ameaças contra ministros da Corte. Não há investigação formal de Bolsonaro.

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