• Tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito
  • Golpe de Estado
  • Organização criminosa armada
  • Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima
  • Deterioração de patrimônio tombado
  • Veja os argumentos das defesas dos denunciados

    Jair Bolsonaro

    O advogado Celso Vilardi, que representa o ex-presidente, argumentou que Jair Bolsonaro não assinou nenhuma minuta de caráter golpista e nem teve participação nos atos golpistas do 8 de Janeiro.

    — Com o presidente, não se achou absolutamente nada. Não existia nenhum elemento. Então, começa uma narrativa a respeito de pronunciamentos públicos para terminar no 8 de Janeiro. Entendo a gravidade de tudo o que aconteceu no 8 de Janeiro, mas não é possível que se queira imputar a responsabilidade ao presidente da República o colocando como líder de uma organização criminosa quando ele não participou — afirmou o Vilardi.

    O advogado também apostou em um "plano B". Vilardi questionou aspectos processuais da investigação, em uma tentativa de enterrar o caso por supostas irregularidades formais. Ele insistiu que não teve o a todas as provas da investigação, como a íntegra das conversas extraídas dos celulares apreendidos pela Polícia Federal (PF). 

    — Temos tudo o que a denúncia citou, mas esse é o recorte da acusação. Com todo respeito, a defesa tem direito a fazer o seu próprio recorte — argumentou.

    O criminalista também defendeu que o julgamento deveria ocorrer no plenário do STF e não na Primeira Turma. Pelo regimento interno do Supremo, ações penais são julgadas nas turmas, para desafogar o plenário e deixá-lo livre para decidir sobre controvérsias constitucionais. A defesa de Bolsonaro afirma, no entanto, que a regra não se aplica a presidentes e, por extensão, a ex-presidentes.

    Alexandre Ramagem

    Pablo Valadares / Câmara dos Deputados
    Ramagem foi chefe da Abin no governo Bolsonaro.

    O advogado Paulo Renato Garcia Cintra Pinto falou em defesa do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e usou a eleição dele como argumento para rebater a denúncia.

    A defesa afirma que não faria sentido acreditar que ele apoiaria um golpe logo após ter sido eleito ao cargo. O advogado também alegou que, quando Bolsonaro radicalizou o discurso, Ramagem já havia deixado o governo.

    Conversas e documentos obtidos pela Polícia Federal na investigação, a partir da quebra do sigilo de mensagem de Ramagem, mostram que, ao longo do governo, ele articulou ataques ao STF e incentivou Bolsonaro a enfrentar os ministros, além de ter construído mensagens para descredibilizar as urnas.

    — O então presidente da República, desde 2018, vinha defendendo a tese de que teria sido eleito já no primeiro (turno) e que, em razão de alguma manobra na manipulação das urnas eletrônicas, ele teria sido compelido à disputa do segundo turno e efetivamente vencido as eleições — afirmou o advogado no tribunal.

    A defesa afirma que os textos "não trazem algo novo, algo inédito, algo criativo". 

    — Não há argumentos novos nesses documentos, não há construção de mensagem.

    Uma das propostas levadas por Ramagem ao ex-presidente previa o uso da Advocacia-Geral da União (AGU) para emitir pareceres que respaldassem o descumprimento de ordens judiciais do STF pela PF. A proposta foi encontrada em anotações apreendidas com o ex-diretor da Abin.

    Ele defendeu que, a pedido do Ministério da Justiça, a AGU elaborasse um parecer "com força normativa vinculante" orientando que "ordens, entendidas manifestamente ilegais, não fossem cumpridas", sob pena de crime de responsabilidade, abuso de autoridade e até prisão em flagrante do delegado ou policial federal. A defesa afirma que a proposta não se concretizou e negou que tenha sido pensada para respaldar o descumprimento de decisões judiciais.

    Almir Garnier

    O advogado Demóstenes Torres, que representa o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, afirmou que a denúncia contra ele é uma "invencionice". A estratégia da defesa foi alegar que o coronel Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica) receberam tratamento especial.

    — Por que houve a presunção de inocência para os dois e aqui há uma presunção de condenação em relação ao almirante Garnier? — questionou Torres.

    Em depoimento prestado ao ministro Alexandre de Moraes, em novembro de 2024, o tenente-coronel Mauro Cid cravou que partiu do ex-presidente Jair Bolsonaro a ordem para os comandantes das Forças Armadas divulgarem uma nota conjunta autorizando a permanência de manifestantes nos acampamentos golpistas. Os chefes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica condenaram no texto "eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos".

    — Se os três am, por que só o almirante Garnier aderiu ao plano golpista? E os outros dois? Por que os outros dois que participaram, am, discutiram a nota, não foram incluídos na denúncia? — indagou Demóstenes Torres.

    Anderson Torres

    O advogado Eumar Novacki, que defende o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, pediu "imparcialidade" do STF: 

    — O que se espera da mais alta Corte do país é que ela aja sempre com isenção. Que jamais permita que discussões políticas, partidárias ou ideológicas contaminem suas decisões. Essa imparcialidade é fundamental para o Brasil.

    Anderson Torres foi acusado na denúncia como uma espécie de assessor jurídico do golpe. A defesa nega que ele tenha escrito a minuta golpista para anular o resultado da eleição de 2022 e decretar intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

    O documento foi apreendido pela Polícia Federal na casa dele. O advogado afirma que foi dado um "peso descomunal" a um arquivo "absurdo e apócrifo".

    A defesa também negou que ele tenha se omitido diante dos atos golpistas do 8 de Janeiro. Torres era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal quando bolsonaristas radicais depredaram a Praça dos Três Poderes. Ele estava de férias nos Estados Unidos no dia da invasão.

    — Ficou provado nos autos que Anderson Torres programou as suas viagens de férias em julho do ano anterior e que ele adquiriu as agens para si e sua família em novembro, quando sequer havia cogitação de qualquer manifestação no Distrito Federal — argumentou o advogado.

    Mauro Cid

    Lula Marque / Agência Brasil/Divulgação
    Mauro Cid assinou acordo de delação premiada.

    O advogado Cezar Bitencourt, que representa o tenente-coronel Mauro Cid, pediu que o STF rejeite a denúncia em relação a ele com base no seu acordo de colaboração premiada. A defesa afirmou que ele agiu com "dignidade, grandeza e responsabilidade", "cumpriu com o seu dever" e "tem o direito de receber o que merece". 

    — As circunstâncias o colocaram nessa situação. Ele apenas serviu à Justiça — disse Cezar Bitencourt.

    Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira

    Exército Brasileiro / Divulgação
    Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira foi ministro da Defesa durante o governo Bolsonaro.

    O advogado Andrew Fernandes Farias afirmou que não há elementos mínimos e idôneos que demonstrem a participação do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira no plano golpista.

    Segundo a denúncia, o então ministro pressionou comandantes das Forças Armadas a aderirem ao plano golpista. Ele teria organizado uma reunião com oficiais de alta patente das três forças em que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria cobrado adesão ao golpe. 

    — A história não fecha. Ele não pressionou, isso é inequívoco — expressou Farias.

    Walter Braga Netto

    DIDA SAMPAIO / Agência Estado
    Walter Braga Netto foi ministro da Defesa e da Casa Civil no governo Bolsonaro.

    O advogado José Luis Oliveira Lima, que representa o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil no governo Jair Bolsonaro, alegou que ele é inocente

    — A denúncia apresentada contra o general não irá manchar a sua reputação — afirmou.

    O criminalista reiterou que não teve o a todo o acervo probatório da investigação e que recebeu milhares de documentos "despejados" de forma desorganizada. 

    — A defesa está com os olhos cobertos, com a sua atuação cerceada. A defesa não teve a menor condição de analisar o que foi produzido — disse Lima.

    O advogado também lembrou que pediu o depoimento do general Braga Netto, o que foi negado.

    — Não me parece razoável. Parece que a polícia já tinha uma narrativa e pronto. Para que ouvir a defesa? — indagou.

    O advogado voltou a pedir a anulação do acordo de colaboração premiada do tenente-coronel Mauro Cid, sob a justificativa de que as informações não foram prestadas voluntariamente e são mentirosas.

    — Um acordo de colaboração premiada viciado — avaliou.

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