Historiador especialmente dedicado ao ado da cidade, Sérgio da Costa Franco, autor do Guia Histórico de Porto Alegre, sempre foi contra o cercamento. Hoje, afirma ter mudado de ideia devido aos recorrentes vandalismos sofridos não apenas pela Redenção, mas por outras praças e parques da cidade.
Em sua opinião, o que se pode esperar de uma Redenção cercada? E por que essa proposta volta com tanta recorrência a ser discutida na cidade?
O poder público, e não só a Prefeitura, mas o Governo do Estado também, tem se mostrado incompetente para guarnecer e vigiar os nossos logradouros. A destruição dos monumentos da cidade e o vandalismo praticado em nossas praças e parques chegam até a recomendar essa ideia de cercar. Eu sempre fui contra, sempre achei que as praças deveriam ser abertas ao público, mas confesso que hoje estou mudando de ponto de vista. Tal é o grau de insegurança dentro da Redenção e de outras áreas verdes da cidade, que já acho que a ideia de fechar à noite é boa. Apesar de isso implicar despesas grandes, acho que valeria a pena.
O senhor acredita que esse cercamento será de fato efetivo para atacar a questão da insegurança? Há relatos de frequentadores roubados durante o dia, às vezes até mesmo de manhã cedo.
Talvez não resolva nada. Todas as medidas que se aplicam em nome da segurança não eliminam o problema básico, mas acho que, a esta altura, vale a pena pensar no cercamento. Na Redenção e em outras praças. A verdade é que esses espaços se conservavam muito mais quando eram cercados. A Praça da Matriz, lá por 1880, teve um período em que foi cercada por um gradil por um período de uns 20 ou 30 anos. Depois, esse gradil foi retirado e ela nunca se isentou de depredações. O próprio monumento a Júlio de Castilhos que lá está tem sofrido pichações e outras coisas. Acho que, sem resolver de todo o problema, pelo menos vai minorá-lo em matéria de preservação dos monumentos e dos equipamentos das praças.
Porto Alegre tem uma tradição de se isolar de seus pontos mais preciosos, como o próprio muro diante do Guaíba, e de destruir prédios históricos. Cercar o parque pode ser um novo episódio desse mesmo tipo de mentalidade?
Porto Alegre é uma cidade que se autodestruiu, quase nada conservou do seu ado. A população, não sei por que motivos, não tem muita autoestima. Isso é um fato que pode ser verificado ao longo da história. Mas a ideia do cercamento das praças não acho desarrazoada, não. A princípio, eu achava que as praças deveriam estar abertas, em nome da democracia e assim por diante. Hoje, mudei de ponto de vista. Esses dias li na própria Zero Hora um relato sobre os danos causados aos monumentos da cidade, que ninguém sabe mais a quem homenageiam, porque roubam as placas. Acho que a Redenção é um parque muito estimado, a juventude toda ama a Redenção. Mas na prática o vandalismo é muito forte. Não imagino bem as razões dessas pessoas que são declaradas inimigas das coisas da cidade. É um problema de psicologia social meio complicado para fazer uma análise sumária.