Os artefatos destinados a desencorajar ladrões ou vândalos, como muros, grades e cercas, também exercem impacto sobre o cidadão comum de Porto Alegre. O psiquiatra, psicanalista e escritor Celso Gutfreind, autor do livro infantil Monstros e Ladrões — no qual aborda a violência urbana —, sustenta que a simples visão das barreiras metálicas e de concreto desempenha um papel depressivo sobre a população em geral.
Há múltiplos fatores associados a problemas como depressão ou melancolia, incluindo questões genéticas, orgânicas, afetivas e sociais. Mas, segundo Gutfreind, o ambiente é outro elemento que pode exercer influência sobre o estado de espírito de quem circula por uma cidade cada vez mais amuralhada.
— O ambiente em que vivemos é mais triste, mais opressivo, mais feio. Há um prejuízo claro na relação entre o indivíduo e o espaço público — diz o psiquiatra.
Gutfreind lembra, em oposição a esse cenário entristecedor, que crianças expostas desde cedo à beleza — seja artística ou urbanística — tendem a desenvolver-se melhor em termos emocionais:
— Mostrar a beleza do mundo desenvolve uma espécie de camada de proteção contra a desintegração afetiva ou a depressão. Por isso, a arte é tão importante para a saúde mental.
Tentativas de reduzir o número de muros e grades na cidade têm fracassado diante da insegurança urbana. O consultor e projetista de segurança patrimonial Luiz Antônio Allgayer conta que, recentemente, os arquitetos de um empreendimento imobiliário no bairro Menino Deus pretendiam erguer um condomínio sem cercas, com um bucólico jardim separando a calçada da porta principal.
— Fizemos uma análise dos riscos do entorno e apresentamos para os arquitetos. Acabaram optando pelo muro. Se deixar a porta como única barreira, é fácil entrar em qualquer prédio. Infelizmente, não temos como fazer ambientes abertos na situação urbana que vivemos hoje — afirma Allgayer.