Professor da PUCRS, pesquisador do Instituto do Cérebro (InsCer)

Penúltimo conferencista do Fronteiras do Pensamento 2021, Carl Hart é psicólogo, neurocientista e professor associado dos departamentos de Psicologia e de Psiquiatria da Universidade de Columbia (EUA). Foi o primeiro pesquisador afro-americano dessa instituição a receber tenure track, que indica uma posição permanente como professor tempo integral. É membro do Conselho em Assuntos de Abuso de Drogas e pesquisador da Divisão de Abuso de Substâncias do Instituto de Psiquiatria de Nova York. Realizou estudos com humanos e animais sobre os efeitos de substâncias psicoativas, como crack e cocaína, também investigando fatores que influenciam o comportamento e o processo decisório sobre o uso de drogas. Em seus livros, aborda o uso de substâncias ilegais apresentando evidências científicas sobre fatores sociais, econômicos e culturais que influenciam esses comportamentos, em conjunto com relatos pessoais de sua infância e adolescência em comunidades vulneráveis de Miami. 

O argumento central de Hart no recente livro Drogas para Adultos: Perseguindo a Liberdade na Terra do Medo é que precisamos repensar a visão atual das drogas ilegais. Além de descrever sua experiência pessoal com o uso recreativo de substâncias, ele busca convencer a população a desmistificar a visão reducionista propagada sobre substâncias psicoativas e seus usuários. Para Hart, o preconceito e desinformação são prejudiciais e devem ser revistos. Ao enfatizar que seu livro não é sobre dependentes de drogas, ele ilustra os potenciais benefícios do uso responsável por adultos de substâncias como cannabis, cocaína, anfetaminas, opioides e psicodélicos.

Inicialmente, Hart estudou o comportamento de usuários de cocaína e crack em um contexto de laboratório, demonstrando que a maioria dos usuários tende a recusar consumir essas substâncias, mesmo que com um alto teor de pureza, quando lhes é oferecida uma alternativa em dinheiro. Esses achados contrariam a ideia de que usuários fariam qualquer coisa, a qualquer custo, para consumir a droga. O contraste entre suas descobertas e a representação dessas drogas na mídia popular o motivou a divulgar seus resultados e ideias publicamente em eventos e livros. Hart tem buscado promover a discussão sobre o tema, argumentando que devemos ser mais realistas sobre essas demandas, assim como em relação ao álcool e ao tabaco.

Para Hart, é necessária uma inversão da ideia de que drogas ilícitas causam um colapso social, uma vez que a dependência e os prejuízos decorrentes do uso seriam resultado de diversos problemas sociais, econômicos e psicológicos. Ele defende que precisamos focar os outros domínios da vida e da sociedade ao invés de apenas enfatizar a droga como a raiz dos problemas de saúde, sugerindo que políticos usam as drogas como bode expiatório para se esquivar das responsabilidades sociais. Hart também aborda o tema de políticas antidrogas como mecanismos de segregação racial, considerando que certos grupos da sociedade são injustamente visados. Perando temas como legalização e descriminalização, aponta que a maioria das pessoas que experimentam substâncias ilícitas não desenvolvem problemas decorrentes do uso. Nesse sentido, não haveria problemas no uso de drogas ilegais por adultos que equilibram os deveres profissionais, familiares e com a sociedade.

Há, em função disso, opiniões divergentes por parte de pesquisadores e especialistas em relação ao seu trabalho. Hart também debate em seu último livro que parte da comunidade científica seria cúmplice da visão reducionista sobre o tema. Ao citar um exemplo do comitê de análise de financiamento do National Institute of Health Norte-Americano, do qual ele foi membro de 2006 a 2010, aponta que alguns pesquisadores consideram certo que qualquer uso de drogas é nocivo. Contudo, indica que muitos cientistas investigam o efeito de drogas usando doses extremamente elevadas, o que torna inevitável a toxicidade revelada e a manutenção da vigente narrativa sobre o tema.

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