Coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Universidade de São Paulo

— O estudo com games mostra que há modificação do padrão de funcionamento do cérebro. E não só o funcionamento, mas há alterações estruturais: muda o tamanho do córtex quando comparado com o que não faz uso dessas tecnologias. É uma bela prova de que esse abuso muda o cérebro — diz Machado. 

O uso excessivo de tecnologias e redes também reduz o convívio social e aumenta o risco de depressão. Em 2019, um estudo publicado no EClinicalMedicine analisou dados de mais de 10,9 mil adolescentes de 14 anos para avaliar se o uso de redes sociais estava associado a sintomas depressivos. Os achados revelaram que 26% das meninas que usavam redes por um período de três a cinco horas por dia preenchiam critérios para depressão.  

As vias potenciais para essa relação, sugeriram os autores, foram o sono insatisfatório e a exposição ao assédio online. O trabalho mostrou que 40% das meninas e 25% dos meninos tiveram experiências de assédio online ou cyberbullying e 40% das meninas em comparação com 28% dos meninos disseram que dormiam frequentemente interrompido. Entre as garotas, também ficou evidente a maior propensão à baixa autoestima, à insatisfação com o peso corporal e à infelicidade com a aparência. 

Além dessas repercussões na saúde mental, o abuso das tecnologias também afeta a parte física. Problemas posturais e oftalmológicos são alguns dos mais comuns reportados por especialistas. 

Positividade tóxica

Corpos esbeltos, viagens incríveis e experiências que am longe da realidade da maior parte da população são alguns dos fatores que renderam ao Instagram de pior rede social para a saúde mental, conforme um relatório feito pela Royal Society for Public Health, do Reino Unido, feito em 2017. O levantamento, que ouviu mais de 1,5 mil pessoas de 14 a 24 anos, identificou que 91% dos entrevistados usavam a internet para ar as redes. 

Além disso, muitos descreveram as redes sociais como algo tão viciante quanto álcool e cigarro. O trabalho também mostrou que, apesar do aumento da ansiedade e de outros problemas relacionados ao o em demasia às redes, essas conexões permitiram o a informações sobre saúde. 

Para Machado, é importante ter uma postura positiva nas redes. Contudo, ele destaca que é normal e natural enxergar as coisas por um viés negativo, assim como ficar triste. 

— A positividade tóxica suprime isso, essa necessidade de lidar com a dor — avalia. 

Identificando e aliviando o uso

Embora seja difícil identificar que se está abusando das redes sociais, há algumas pistas de que o uso é excessivo, apontam os especialistas. Preocupar-se em demasia com a rede em questão, perder o controle do uso a ponto de ter prejuízos na escola ou no trabalho, ficar irritado com a falta de sinal de internet ou se incomodar com uma bateria no fim são indícios que devem acender o sinal de alerta. 

— Diminuir a convivência social, atividade física, apresentar piora no sono e, apesar disso, continuar usando as redes e aumentando o seu uso precisam de atenção — diz o psiquiatra Rodrigo Machado. 

Leia mais: "O preço que já está sendo pago pelos jovens é grande", diz psiquiatra

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais

RBS BRAND STUDIO