Coronel Paulo Ricardo Quadros - Até agora, sem pressões. Estou tranquilo. Tenho 34 anos de BM, fui baleado três vezes em serviço e, graças a Deus, sempre tive apoio na comunidade. Dessa vez prendemos 12 bandidos, apreendemos oito armas e a comunidade da Vila São Jorge, em Guaíba, nos agradeceu.
Por que o senhor decidiu agir?
A associação de moradores da Vila São Jorge é presidida por um senhor que virou cadeirante em decorrência de um tiroteio. Era envolvido no crime, hoje ele é um trabalhador. Ele pediu nossa ajuda e fomos lá. Prendemos uma quadrilha oriunda da Vila Nazaré e da Cohab Costa e Silva, em Porto Alegre, que decidiu migrar para o outro lado do Guaíba. Eles disparavam à esmo na rua, em briga com outro bando de criminosos. Uma guarnição nossa foi recebida a tiros. Reforçamos o efetivo e, em duas ações, prendemos a maioria deles. A maior surpresa foi deparar na quarta-feira com o adolescente, que tinha sido preso domingo. Na segunda vez, com uma pistola que atira como metralhadora. Uma barbaridade. Como ele já estava solto? Alguém falhou e não foi a BM. A sociedade vai pagar um preço por isso, infelizmente.
O Tribunal de Justiça afirma que o adolescente nem chegou a ver um juiz. Ele foi liberado pela Polícia Civil, antes de sua prisão ser formalizada...
Não vou me manifestar aqui para dizer se o guri foi liberado na DP ou no Judiciário. Só sei que estava solto três dias depois de ser apreendido com arma. Não só ele, os outros da quadrilha também. Um dos bandidos, o Eric, me disse que até ele ficou surpreso ao ser libertado. Isso está gravado. Vou dar minha opinião, do Paulo Quadros, cidadão a serviço da lei: não pode acontecer isso. Os PMs trabalharam cinco dias e quatro noites atrás desse bando. Eu estava com eles. Peguei sarna, a região é de banhado...para ver depois que eles estavam soltos. É um retrabalho. Quem falhou tem de ser responsabilizado. Se eu falhei, que eu também seja responsabilizado.
O senhor não teme se incomodar com essa polêmica?
Não. Não sou demagogo, sou operacional. Sou hoje o quinto coronel mais antigo da BM. Tenho curso superior, de Direito, e pós-graduação em Segurança Pública. Sei o que estou falando.
Em nota, o presidente da Associação dos Juízos do Rio Grande do Sul (Ajuris), Gilberto Schäfer, classifica como "vulgar" o apelo do coronel e afirma que a provocação contra o poder judiciário é "inaceitável". Segundo o comunicado, na primeira apreensão do adolescente, não houve a sua apresentação perante o poder Judiciário.
"Tendo em conta a natureza do crime – porte de arma –, e a circunstância de o adolescente não ostentar quaisquer antecedentes, sua liberação, para os familiares, deu-se pela própria Delegacia de Polícia. Cumpriu-se, para este ensejo, a Lei 8069/90, que o Coronel aparenta desconhecer. Na segunda apreensão, igualmente a liberação foi determinada, independentemente de manifestação do Poder Judiciário", diz a nota.
Schäfer reforça que "não houve nenhuma atuação judicial no que diz respeito à liberação do adolescente, e, por isso, a afirmação do coronel é falsa."
O Comando da Brigada Militar também se manifestou por nota e afirmou que a fala do coronel Quadros trata-se de um posicionamento "absolutamente pessoal, sem qualquer vínculo com os ideais e as percepções da Brigada Militar."
A nota afirma ainda que a postura institucional da BM é de impulsionar parcerias com cada cidadão, órgão e poder.