Turismo em Cambará do Sul: um guia especial para conhecer a terra dos cânions
E pensar que por entre os desfiladeiros e prados verdes eram transportados alimentos e também o gado pelo caminho dos tropeiros que por ali cavalgaram no final do século 17 e início do 18. Neste território inóspito e imaculado, havia mais cabeças de gado do que homens e mulheres e não por acaso o nome enraizado por aquelas terras sempre foi Ausentes. Afinal de contas, qual é a origem do nome do município? A lenda mais falada por aquelas bandas explica que poucas pessoas moravam no local por muito tempo devido às péssimas condições climáticas.
Ou, ainda, podemos tomar emprestada a poética de Jayme Caetano Braun, que cunhou em Querência, Tempo e Ausência a metáfora de Ausentes:
“No cartão de procedência,
Pouco importa onde nasci,
Busquei rumo e me perdi,
Querência, minha querência,
Desde então me chamo ausência,
Porque me apartei de ti.”
Há esquivos na história oficial de Ausentes. Mas se diz que desde 1727 os jesuítas, com os índios Tape (Guarani), levantaram uma cruz para registrar seu domínio na Vacaria dos Pinhais. No entanto, quando morreram os grandes posseiros dessas terras, campos teriam sido arrematados em “Juízo de Ausentes”, no ano de 1764, pelo capitão Antônio da Costa Ribeiro. Em meio às idas e vindas das gentes que por ali transitavam ou nasciam e morriam, o gado de raça franqueiro foi se espraiando. É franqueiro porque é livre, xucro, selvagem, em seu DNA sem dono. Ou seja, é mais do que história, é metáfora dessa terra desde sempre impávida e ainda à espera de ser reconhecida, desbravada e adorada.
Depois da morte do capitão Ribeiro, e por não ter descendentes, novamente os campos foram para juízo. Em 1787 foram arrematados pelo padre Bernardo Lopes da Silva, o tenente José Pereira da Silva e Manoel José Leão, que ream em 1789 seu quinhão ao povoador Antônio Manoel Velho, que a denominou Fazenda Santo Antônio dos Ausentes. De três sesmarias, logo a terra dos ausentes virou 10, que só foram subdivididas a partir de 1874, quando morreu Ignácio Manoel Velho, um dos herdeiros que manteve a área intacta. Essa terra de Manoel Velho, somada a outras léguas, se tornaria o que mais tarde registrou-se como o município São José dos Ausentes, oficialmente nascido em 1992.
Subir para Ausentes é percorrer uma trilha com pedras no meio do caminho. Não se trata de metáfora daquele outro poema do Drummond (“No meio do caminho tinha uma pedra / Tinha uma pedra no meio do caminho”), é pura realidade.
O o ao município está melhor do que há 10 anos, porque de Bom Jesus a Ausentes até asfalto já tem. Mas entre um cânion e outro, entre uma e outra paisagem de devaneio, há ainda muito chão de pedra. Mas e quem disse que as melhores vistas são as dos arranha-céus das mais altivas construções dos homens">
“A gente nasce e enraíza,
entre pedras e pinheiros.
Descendentes de tropeiros,
raça bugre ou guarani.
Quando ar por aqui,
de outras terras, os viajantes.
Oh ! De casa! e pra diante!
Tome um mate, a casa é sua....
E a tradição continua
Em São José dos Ausentes.”
Ausentes é logo ali, a cerca de quatro horas de Porto Alegre (em torno de 250 quilômetros, dependendo do trajeto). Vá andar por aquelas terras vastas, de paisagens mais do que instagramáveis, paisagens de aquietar a alma e vincular-se à história da formação do povo do Rio Grande do Sul. Mesmo os que deixaram a terra de Ausentes são eternamente atraídos por ela, pois, como descreve a poesia de Elton Saldanha, “quem viveu em São José dos Ausentes / não quer se ausentar de lá”.
*O jornalista viajou a convite da Pousada Estância das Flores.
Oito cânions fazem parte do complexo. Quatro estão na Estrada Chapada Bonita: Boa Vista, Realengo, Do Encerra (ou Amola Faca) e Tabuleiro. A Estrada Geral Montenegro leva ao Chiqueiro, ao Cruzinha e ao Monte Negro. Ao Cânion da Rocinha, chega-se pela BR-285.