
É surpreendente escrever uma coluna com esse título sem que ele se refira à minha idade cronológica, e sim ao meu tempo dedicado à literatura. Nunca imaginei celebrar 40 anos de nada que não fosse meu próprio nascimento. Nem mesmo fiquei casada por quatro décadas, marca valorosa que algumas de minhas amigas estão alcançando. Pelo menos, estabeleci uma relação estável e longeva com as palavras que escrevi.
Não parece que foi ontem, parece que foi quando foi: na minha pré-história. Aos 23 anos, juntei um punhado de poemas e os expus, pela primeira vez, para um paulistano que andava sacudindo o mercado editorial com uma coleção que virou a queridinha dos modernos: Cantadas Literárias.
Ao enviar pelo correio o envelope recheado com meus versos, não lembro de ter pensado que eu estava sendo louca ou cara de pau demais, o mais provável é que eu não tenha pensado em nada. Apenas obedeci à pulsão de vida que me empurra até hoje. Um “vai lá e tenta” sem medo do fracasso. Se tenho um mérito, talvez seja este: não ficar de braços cruzados aguardando a morte. Tem gente que paralisa e prefere ser uma eterna promessa. Nunca prometi nada para ninguém, nem para mim mesma.
Ainda sobem ao palco bandas de rock que fazem turnês de aniversário, coisa que não se verá mais no futuro: um artista que surge hoje, por mais talentoso que seja, compete com milhares de outros em serviços digitais como o Spotify. Dificilmente se destacará como ídolo de massa.
Por vivermos em um mundo faminto por novos conteúdos, intuo que ninguém mais se manterá, por anos a fio, em destaque. A fama tende a ser um conceito em extinção e festejar 40 anos ininterruptos de qualquer coisa, seja de um amor ou de uma carreira, talvez venha, um dia, a ser considerado um insucesso, como se a pessoa tivesse esquecido de viver. Sei lá se sou boa de previsão, em 2065 se saberá, pena que não estarei aqui para confirmar.
Mas, em 2025, bodas e aniversários continuam a ser celebrados e a persistência resiste como sendo um valor. Persistência que não precisa ser monótona: foram bem movimentados os 40 anos transcorridos entre meu primeiro livro, Strip-Tease, e o próximo (uma edição especial, com frases e versos ilustrados por Daniel Kondo, já já).
Me aventurei por diferentes gêneros literários, escrevi relatos de viagens, fiz parcerias musicais, tive textos adaptados para o teatro, sucumbi ao mundo digital e, aguentem, ainda tenho planos. A cenoura segue pendurada em frente ao nariz. Continuo na busca por outras primeiras vezes. Estou prestes a abraçar um projeto que me assusta barbaramente. E entre um frio na barriga e outro, não esqueço de viver – aliás, é a parte que mais gosto.