
Uma das características mais belas de Cissa Guimarães é a capacidade de transformar dor em luz e vivacidade. Aos 68 anos, a atriz carioca garante que sua missão é levar alegria para as pessoas, e cumpre esse propósito com intensidade, ainda que tenha convicção de que jamais será “100% feliz”.
Recentemente no Sem Censura, programa de entrevistas que ancora desde o ano ado nas tardes da TV Brasil, Cissa afirmou que, desde a morte trágica do filho Rafael Mascarenhas, em 2010, se sente “uma mulher amputada”.
— Tenho um coração amputado, sou uma mulher amputada. Mas acho que posso ser 70% feliz e vou correr atrás desses 70% — disse ela aos entrevistados.
Essa vitalidade é perceptível em muito do que ela faz no seu dia a dia. Nesta temporada do Sem Censura, Cissa está celebrando os 40 anos do programa, o qual, sob sua batuta, foi agraciado com o Prêmio APCA de Melhor Programa de Televisão de 2024, e a apresentadora segue firme no propósito de oferecer debates relevantes com liberdade:
— Quero que essa temporada do programa traga para as pessoas tanta alegria como trouxe no ano ado. Quero poder ter a oportunidade de cumprir essa minha missão, que é de levar alegria e luz, tanto por meio do meu trabalho quanto da minha pessoa. Quero ter saúde para poder cumprir a minha missão.
Mas o momento da artista vai além da televisão. Em março, ela estreou na quarta temporada da série A Divisão, no Globoplay, interpretando uma juíza inspirada em Patrícia Acioli, conhecida por sua coragem no combate à corrupção.
Fico feliz, nesse momento da minha vida, de estar à frente de um programa tão icônico.
CISSA GUIMARÃES
Atriz e apresentadora
Em 2026, ela voltará aos palcos com a comédia dramática Doidas e Santas, baseada no livro homônimo de Martha Medeiros. A peça já foi vista por mais de 500 mil espectadores e está prestes a completar 15 anos em cartaz, mantendo o mesmo elenco original e direção de Ernesto Piccolo. O Rio Grande do Sul está nos planos da turnê do espetáculo:
— Sim, iremos. A gente só não foi ano ado por causa das inundações.
Cheia de planos e afetos, Cissa desafia rótulos e expectativas: fala e ri alto e, como ela mesma diz, já assustou muitos homens por aí. Mas jamais se calou. Prefere seguir fiel ao significado do seu nome de batismo – Beatriz, “aquela que traz alegria” – e ao modo de viver que acredita profundamente na liberdade de ser quem é, sem pedir desculpas por isso.
Em entrevista para Donna, Cissa fala com franqueza sobre amor, amadurecimento, trabalho, desejos e sobre o prazer de viver com intensidade.
Confira a entrevista com Cissa Guimarães
Está no ar uma nova fase do programa Sem Censura? O que o programa lhe trouxe de bom?
O Brasil inteiro aplaude a primeira temporada, que foi um sucesso. Ganhamos o APCA e já estamos indicados a mais um prêmio nessa segunda temporada. Foi como uma fênix, ressurgimos das cinzas. É um programa de 40 anos que tem um prestígio enorme, pelo qual já aram as pessoas mais ilustres que temos no Brasil. As pessoas gostam de estar lá.
O que explica a longevidade do Sem Censura?
Acho que as pessoas gostam de ir lá porque se sentem à vontade, e esse é o mérito do programa: temos uma liberdade absurda. Estando à frente da bancada, agora, levei o meu jeito de entrevistar. Não tenho formação em jornalismo, mas já apresentei vários programas e tenho esse meu jeito espontâneo.
Tento colocar as pessoas o mais à vontade possível para que falem suas histórias, compartilhem assuntos e divulguem os seus trabalhos. Fico feliz, nesse momento da minha vida, de estar à frente de um programa tão icônico.
Já assustei muita gente com esse meu jeito de falar e rir alto. Isso me machucou durante uma época. Depois de anos de análise, eu decidi: “vou continuar assim e quem quiser ficar comigo, fica”.
CISSA GUIMARÃES
Atriz e apresentadora
Você completou 68 anos em abril. Quais são as reflexões que esse momento lhe traz?
Traz muito aprendizado, mas todas as mazelas de entrar na velhice, que não é fácil. Sinto cansaço, apesar de ser uma pessoa que tem uma energia grande. Mas a gente tem que aceitar, pois como diz Gilberto Gil: “o tempo é rei”. Não adianta lutar contra o tempo, é preciso saber se cuidar e ter uma boa velhice.
Quero brincar com a minha neta pequena, quero viajar, ter uma vida ativa, seja a sexual, a profissional, ao lado dos meus amigos. Priorizo minha saúde e o trabalho, pois acho que faz um bem danado a gente se sentir útil, cumprir uma missão. Procuro fazer todas essas coisas e dar uns beijos na boca de vez em quando (risos). Estou entrando muito bem na minha maturidade.
Você me a a impressão de ser uma mulher positiva, que sorri com vontade e dá conta de tudo. É assim mesmo no seu dia a dia?
Na grande parte do tempo, sim. Tenho um compromisso com a alegria. Gosto de me divertir, divertir os outros, de levar alegria. Não tenho pudores. É uma questão de jeito, nasci assim. Meu pai me chamava de “meu palhacinho da casa”, “menina que só traz alegria”. Não tenho pudores. Realmente assimilei o meu nome de batismo – Beatriz, que significa “aquela que traz alegria”.
Não ser a “mulher comedida”, a “que fala baixo” é algo que abre portas, mas fecha outras. Já aconteceu com você?
Claro, os homens morrem de medo, né? Já assustei muita gente com esse meu jeito de falar e rir alto. Isso me machucou durante uma época. Depois de anos de análise, eu decidi: “vou continuar assim e quem quiser ficar comigo, fica”. É um jeito bacana de ser, porque traz uma energia boa, e quem se sentir mal com isso, não chega perto, e está tudo bem. Não estou nem aí. Minha missão é levar alegria e luz para as pessoas.
O que é indispensável para você em termos de autocuidado?
Sou extremamente honesta comigo e com as pessoas, por isso, deito a cabeça e durmo à noite. É uma questão de valores, de caráter. Procuro exercer uma coerência entre o que penso e o que faço, e isso é uma luta diária. O bem é pensar nos valores que fazem bem a você e aos outros e colocá-los em prática. Aí, minha filha, não tem erro: é só tocar o barco para frente e “vambora”!
Priorizo minha saúde e o trabalho, pois acho que faz um bem danado a gente se sentir útil, cumprir uma missão. Procuro fazer todas essas coisas e dar uns beijos na boca de vez em quando.
CISSA GUIMARÃES
Atriz e apresentadora
Você faz parte do elenco da peça Doidas e Santas...
É uma honra imensa ter feito uma peça da Martha Medeiros. Ano que vem voltamos com Doidas e Santas para cumprir os 15 anos da peça, que é um fenômeno. Em 2024, fizemos muitas apresentações. Esse ano não vai dar para apresentar, pois tenho muito trabalho. A Martha Medeiros, que era de uma pessoa que era fã como cronista e escritora, acabou virando grande amiga. Foi um presente que o teatro me deu.
Qual mensagem você diria para mulheres maduras que sentem que a sociedade deseja que elas desapareçam?
Não se deixe influenciar pelas redes sociais, nem pelo próprio espelho, e não dê bola para o que dizem. Acredita no que está dentro de você e faz o que te fizer bem. Já vivemos e sofremos para caramba, já criamos os filhos, então agora é hora de curtir a vida.
Estamos numa hora da vida que podemos dizer “não” para uma série de coisas. Tenha por perto pessoas que realmente gostam de você do jeito que é e cuide muito da sua saúde para ter uma velhice boa.