
Uma condição pouco conhecida, mas que pode impactar profundamente a vida sexual, emocional e até social de muitas mulheres, é a clitoromegalia — nome clínico para o aumento anormal do clitóris, mesmo em repouso e sem qualquer tipo de excitação.
Também chamada de hipertrofia do clitóris, a condição pode causar desconforto, dor durante o sexo, sensação de inadequação e constrangimento com a própria aparência.
Em algumas situações, o órgão pode atingir um volume que se assemelha ao de um pênis pequeno, o que gera insegurança em contextos íntimos. Apesar disso, não há prejuízo direto no prazer, desde que não haja dor associada. As causas mais comuns incluem distúrbios hormonais, uso de anabolizantes e doenças congênitas.
A ginecologista Jaqueline Behrend Silva, especialista em saúde íntima feminina, explica que o problema nem sempre é apenas estético e que há casos em que a cirurgia é necessária.
— A condição pode provocar desconforto e dor, levando à inibição da vida sexual. Isso interfere na autoestima, no prazer e até nos relacionamentos — afirma.
O que é clitoromegalia?
Clitoromegalia é o nome médico dado ao aumento incomum do clitóris. O órgão, que normalmente tem cerca de 1 centímetro de parte visível, pode apresentar volume superior sem que haja excitação sexual.
Em repouso, esse crescimento anormal indica um desequilíbrio que deve ser investigado por um ginecologista ou endocrinologista.
O clitóris é altamente vascularizado e composto por tecidos semelhantes aos do pênis. Em geral, a parte visível é pequena, mas a estrutura total do órgão pode ter até 11 centímetros de comprimento, incluindo raízes internas que se projetam ao longo dos grandes lábios.
Quando há hipertrofia, o volume visível aumenta e pode modificar o contorno da vulva, gerando impactos visuais e psicológicos, além de possíveis incômodos físicos.
Quais são as causas do aumento do clitóris?
Segundo Jaqueline, o aumento pode ter origem genética ou ser adquirido. As principais causas incluem:
- Hiperplasia adrenal congênita: doença hereditária que afeta as glândulas suprarrenais e altera a produção de hormônios sexuais;
- Adenomas: tumores benignos que interferem na regulação hormonal do corpo;
- Tumores produtores de andrógenos: especialmente testosterona, hormônio típico do organismo masculino;
- Uso de anabolizantes esteroides: substâncias utilizadas para ganho de massa muscular e energia, que afetam diretamente os níveis hormonais;
- Distúrbios congênitos do desenvolvimento sexual, que podem provocar alterações desde o nascimento.
O uso de anabolizantes pode provocar clitoromegalia?
É uma das causas mais comuns entre mulheres adultas que desenvolvem o quadro ao longo da vida. Ao utilizar esteroides anabolizantes, há um aumento significativo dos níveis de andrógenos, especialmente a testosterona.
Isso pode provocar não apenas o crescimento do clitóris, como também:
- Aumento de acne e oleosidade da pele;
- Crescimento de pelos em regiões como rosto, peito e abdômen;
- Queda de cabelo em padrão masculino (calvície);
- Alteração no timbre da voz;
- Aumento da agressividade.
— Quando se utiliza essas medicações, o médico deve orientar e acompanhar a paciente para, em conjunto, decidir o que é ou não importante para ela — orienta a ginecologista.
O quadro é reversível ou precisa de cirurgia?
A hipertrofia do clitóris é, geralmente, irreversível, segundo Jaqueline. Mesmo após interromper o uso de anabolizantes ou tratar o desequilíbrio hormonal, o órgão não costuma retornar ao tamanho original.
A única alternativa possível para a redução do volume é a clitoroplastia, uma cirurgia íntima realizada por ginecologistas especializados.
No entanto, o procedimento exige cautela, pois envolve risco de perda de sensibilidade, uma vez que o clitóris é um dos principais centros de prazer da anatomia feminina.
Ter clitóris grande interfere no prazer?
Não diretamente. O clitóris continua sendo um órgão sensível e funcional mesmo em casos de hipertrofia. O que pode afetar o prazer são fatores como dor na penetração, desconforto com a própria imagem ou insegurança nas relações íntimas.
Além disso, o aumento de hormônios masculinos pode modificar o comportamento sexual e emocional da paciente.
— O que pode ocorrer, eventualmente, é que o aumento dos níveis androgênios leve essa mulher a ter um comportamento mais agressivo de modo geral — explica a médica.
Qual o tamanho normal do clitóris?
O clitóris tem, em média, entre 9 e 11 centímetros de comprimento total, considerando suas ramificações internas. Já a parte externa visível tem cerca de 1 centímetro, embora haja variações entre mulheres.
Não existe um "padrão ideal" — o que importa é se a mulher se sente bem com o próprio corpo.
— O clitóris faz parte da vulva e apresenta muitas variações. Não devemos estimular as mulheres a medir seu clitóris, e sim, caso exista um incômodo visual ou sexual, procurar um ginecologista para conversar — finaliza Jaqueline.