
Por Deniz Anziliero, diretor da Escola do Agronegócio da Atitus Educação
Em um cenário global marcado por instabilidades, o Brasil tem reforçado seu papel como potência agroambiental, destacando-se não apenas pela capacidade produtiva e estabilidade, mas, sobretudo, pelo compromisso crescente com a sustentabilidade. Esse protagonismo foi um dos temas centrais debatidos no Global Agribusiness Festival (GAFFFF), realizado nos dias 5 e 6 de junho no Allianz Parque, em São Paulo.
O evento vem se consolidando como o principal ponto de encontro entre agronegócio mundial, cultura e entretenimento realizado no Brasil. Combinando debates estratégicos, experiências gastronômicas e shows, o GAFFFF trouxe à tona temas centrais para o futuro do agro.
Entre os destaques, estiveram os desafios do comércio internacional, os riscos crescentes de insegurança alimentar e energética, além das oportunidades que surgem diante de um mundo em processo de desglobalização.
Chamou a atenção a ênfase no Brasil como fornecedor confiável de alimentos, energia limpa e matérias-primas. Foi destacado, por exemplo, como o país manteve seus fluxos comerciais mesmo durante a pandemia, enquanto outros optaram por restringir exportações com medo de desabastecimento.
Outro ponto alto das discussões foi a necessidade de fortalecer as cooperativas, que são fundamentais na modernização do setor na conexão com o consumidor. Temas como rastreabilidade e produção sustentável foram abordados como oportunidades para ampliar a competitividade do agro brasileiro, e não como barreiras ao seu crescimento.
Assuntos como logística, o a mercados e sucessão familiar também tiveram destaque. Os debates apontaram a necessidade de melhorar a governança nas empresas rurais e de investimento contínuo em capacitação, além da urgência de articulações com o poder público para aprimorar a infraestrutura de transporte, um desafio sensível para a Região Sul, em particular o norte do RS, onde a pauta das concessões de rodovias é cada vez mais urgente.
Destaque local
Um grande exemplo apresentado no evento foi a atuação da empresa gaúcha Be8, responsável pelo fornecimento do biocombustível utilizado nos geradores que abasteceram todo o Allianz Parque durante o festival. Produzido em o Fundo, o biodiesel BeVAnt ganhou projeção nacional, demonstrando a força da inovação regional e o protagonismo da Be8 na transição energética mundial.
Em um dos momentos mais marcantes do GAFFFF, o ex-ministro Roberto Rodrigues ressaltou que a COP30, realizada em novembro no Brasil, representa uma oportunidade histórica para o país mostrar ao mundo seus avanços em sustentabilidade agroambiental. No entanto, alertou para a urgência em consolidar a regulamentação do mercado de carbono e alinhar esforços com países que compartilham biomas tropicais.
Neste contexto, Gustavo Spadotti, chefe-geral da Embrapa Territorial, apresentou dados oficiais que mostram que mais de 66% do território nacional é de vegetação nativa protegida e vegetação preservada pelos produtores rurais, enquanto apenas 7% da área do Brasil é ocupada por lavouras.
O GAFFFF proporcionou uma visão estratégica do agro no mundo, além de conectar campo e cidade. No entanto, como participante, não pude deixar de notar a baixa representatividade institucional e empresarial do Rio Grande do Sul no evento. Considerando a relevância econômica, social e ambiental do agronegócio para o nosso estado, é hora de assumirmos um protagonismo condizente com nossa importância.
Deniz Anziliero é diretor da Escola de Agronegócio da Atitus Educação. Entre em contato através do e-mail [email protected].