Fomos mais do que irmãos: fomos amigos! Registro aqui minha imensa saudade do irmão que encantava a família até quando tocava um violino desafinado

E também parceiros de ideias e ideais, principalmente para cultuar e praticar valores que nos foram transmitidos por nossos pais. José e Rita foram valentes, resilientes, trabalharam muito para reconstruir uma vida digna longe da terra natal. Foram também obsessivos em transmitir aos filhos princípios que herdaram de seus anteados. Com eles aprendemos o significado do trabalho, da persistência, do empreendedorismo, da educação, da ética e da solidariedade.

Esses valores formaram o alicerce de nossas vidas pessoais e de nossas carreiras profissionais. E a educação talvez tenha sido a nossa melhor herança, pois possibilitou o desenvolvimento de cada um dos irmãos. Nossos pais se preocupavam tanto com a formação educacional dos filhos que trataram de se mudar da colônia de imigrantes para uma cidade maior, em busca de escolas mais qualificadas. 

Desde cedo, ainda menino, Maurício demonstrou vocação para a comunicação. Tivemos todos uma iniciação musical, cada um foi estimulado a tocar um instrumento. O mais velho ficou com o piano, o segundo com a flauta e Maurício, que era o terceiro, aprendeu a tocar violino. A mim coube o acordeão, mas não demorou muito para que a professora e eu chegássemos à conclusão de que eu não tinha qualquer talento musical...

Maurício, além de tocar violino (um pouco desafinado, a bem da verdade) e de cantar nas reuniões familiares, também era falante, bem-humorado, gostava de brincar e fazer amizades. Era uma pessoa de convivência agradável. O bom humor era uma de suas principais características. Também por isso eu me afeiçoei tanto a ele.

E levamos essa identidade, essa forma de pensar e agir, para as nossas relações de trabalho. Quando eu era adolescente, com 13 ou 14 anos, já ia trabalhar com ele na Rádio o Fundo, onde era gerente. Eu fazia de tudo, a caixinha das mensagens comerciais, a seleção dos discos, mexia na mesa de áudio. Eu ia, na verdade, para ficar com Maurício. E fazíamos também radioteatro juntos. Maurício, Ione e eu atuávamos em novelas.

Mais tarde, esses valores também foram importantes na formação da RBS. Tivemos um começo muito difícil, arriscamos tudo por nossas crenças. Hipotecamos o que tínhamos. Mas fomos bem-sucedidos, sem nunca perder a visão social herdada da solidariedade familiar. Essa visão ou a ser uma das culturas da RBS. Maurício e eu doamos escolas, creches, sempre dando ênfase à educação, que havia sido essencial para nós. Minha cunhada Ione também desenvolveu trabalhos importantes na área social.

A solidariedade, típica dos imigrantes, também ficou marcada na nossa relação. Construímos uma empresa de grande valor social, que já opera com a terceira geração familiar na sua gestão. Ao longo dos seus quase 70 anos, aram pela RBS inúmeros companheiros que nos ajudaram muito na consolidação de nosso projeto empresarial e que também assimilaram essa nossa visão de ser útil à sociedade e ao país.

Faço esse destaque sem desconsiderar a contribuição igualmente fundamental de tantos outros brasileiros filhos de imigrantes de diferentes origens e religiões, aos quais reconhecemos e iramos. Acreditamos que esse cadinho de origens, costumes e crenças ajuda a valorizar essa nossa pátria, que sempre acolheu e que ainda acolhe com carinho tantos estrangeiros.

Maurício Sirotsky Sobrinho teve uma vida breve para a dimensão de suas potencialidades e deixou um imenso vazio no coração de todos os que tivemos o privilégio de conhecê-lo e de conviver com ele. Mas também teve uma vida plena de energia, sonhos e realizações. Foi um exemplo de dinamismo, de criatividade e de solidariedade. 

A celebração do centenário de seu nascimento é um justo reconhecimento ao comunicador talentoso que liderou a construção no Rio Grande do Sul de um grupo empresarial com raízes locais, identificado e comprometido com os interesses do Estado e do país. Na condição de parceiro e sócio desta maravilhosa aventura, registro aqui minha imensa saudade do irmão que encantava a família até quando tocava um violino desafinado. 

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais

RBS BRAND STUDIO