Por Professor Claudio Branchieri, deputado estadual (Podemos) e economista
Diante da maior tragédia climática da história do Brasil, o que o povo gaúcho esperava era solidariedade concreta. O que recebeu foi, em grande parte, propaganda. Um ano após as enchentes que deixaram milhares de gaúchos desabrigados e devastaram dezenas de municípios, o governo federal divulgou ter destinado R$ 111 bilhões em "ajuda" ao Rio Grande do Sul. O discurso amplamente disseminado, sem o rigor necessário, reproduziu o número sem questionamento.
Milhares de famílias ainda aguardam as casas prometidas pelo governo federal
Segundo dados do Tesouro Nacional, os valores efetivamente empenhados chegam a R$ 49 bilhões. Mas mesmo esse número está inflado. Dos R$ 49 bilhões, R$ 18,9 bilhões referem-se à postergação no pagamento da dívida estadual - um alívio temporário de caixa, mas sem entrada de recursos novos. Outros R$ 15,4 bilhões foram alocados em fundos garantidores para viabilizar novos empréstimos - ou seja, mais dívida. De fato, recursos diretos a fundo perdido somam apenas R$ 13,6 bilhões. O restante são antecipações de valores que seriam pagos de qualquer forma, como restituições do imposto de renda, benefícios previdenciários e saques do FGTS.
E até para ar o próprio fundo de garantia, o trabalhador precisou vencer um labirinto burocrático. O saque só foi autorizado para quem residia dentro da chamada "mancha de inundação". Fora do traçado, foi exigido um laudo técnico para comprovar prejuízos - como se a devastação não tivesse sido generalizada.
Enquanto isso, milhares de famílias ainda aguardam as casas prometidas pelo governo federal, e centenas seguem vivendo em abrigos. O povo gaúcho não busca favores. Busca respeito. Busca ações concretas, não manchetes. Lula afirma que ajudou, mas quem está, de fato, reconstruindo o Rio Grande do Sul é o povo que ele mesmo deixou para trás.