Por Marcelo Matias, presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers)
Antes de qualquer decreto oficial, os médicos já sabiam. As emergências de Porto Alegre estavam entrando em colapso – e, como sempre, eles estariam na linha de contenção entre o caos e a tragédia. Quando a rede entra em pane, é o profissional da saúde que encara o paciente com febre alta no corredor, o idoso sem leito, a criança com dificuldade para respirar e nenhuma vaga disponível.
É o reflexo de decisões mal planejadas ou simplesmente negligenciadas
É preciso repetir, com toda a firmeza e serenidade: os médicos não são o problema. São a última proteção diante de um sistema que insiste em ruir.
O que estamos vendo em Porto Alegre é o reflexo de uma série de decisões mal planejadas ou simplesmente negligenciadas. A atenção primária está subfinanciada, fragilizada, distante da população – e quando falha, tudo deságua nas emergências. A crise nos hospitais da Região Metropolitana, em especial de Canoas, empurra um volume insustentável de pacientes para a Capital. E o que era para ser uma política de justiça na distribuição de recursos estaduais virou corte: o Programa Assistir reduziu rees de hospitais estratégicos em regiões densamente povoadas, agravando ainda mais o desequilíbrio.
Para completar o cenário, pairam dúvidas consistentes sobre o real cumprimento, por parte do governo estadual, da destinação mínima de 12% do orçamento para a saúde – um dever constitucional que, quando desrespeitado, compromete toda a engrenagem do SUS.
Cada ser humano na fila representa uma vida – e quem escolheu a medicina sabe o peso, mas também a honra de cumprir uma missão sagrada todos os dias.
Defender os médicos é defender a saúde. Não é apenas um lema do nosso Sindicato – é um chamado à razão. Se não cuidarmos de quem cuida, o sistema desmorona.
Sem médicos valorizados e gestão eficiente, não há sistema que resista. O colapso nas emergências é um grito por responsabilidade – e quem se omite diante dele adoece o presente e o futuro.