Quem não tem um oráculo, bola de cristal, cartomante e até sacerdote de superstição? Cada fiel, do seu jeito, clama às forças ocultas que desvelem o futuro, descortinando toda névoa que impede aos pobres mortais exercitarem a clarividência, digna apenas dos iluminados.
Neo, personagem da saga Matrix, perguntou ao Oráculo se ele era o Escolhido. E qual foi a resposta? Não lembro literalmente do diálogo, mas é nessa linha:
— Você é o que acredita ser — disse o Oráculo, depois de tragar o cigarro.
— Então temos de avisar o Morpheus que eu não sou o Escolhido.
— Mas ele acredita que você é — ironizou o Oráculo.
Li por aí que a onda do momento é baixar um desses aplicativos de IA para simular terapia com psicólogos, psiquiatras e até psicanalistas. Tem doido pra tudo. Dentro e fora das telas. E funciona, Mugnol? Nunca tentei, mas vou arriscar (quase desistindo, condicionado pelo inevitável erro dessa insana ideia).
Perguntei primeiro assim: “Como um psicanalista freudiano responderia, em uma frase curta de três linhas, a questão: Por que eu não consigo amar o próximo como a mim mesmo?”.
A resposta foi: “Segundo a psicanálise freudiana, a dificuldade em amar o próximo como a si mesmo reside na primazia do narcisismo original e na incessante luta entre as pulsões de vida (Eros) e as pulsões de morte (Tanatos), onde o ego busca antes a satisfação de suas próprias necessidades e a preservação do eu”.
Depois, repeti a mesma questão trocando o “psicanalista IA” por uma “psicóloga cognitiva experimental IA”, que respondeu:
“Você pode ter dificuldades em amar o próximo como a si mesmo devido a vieses cognitivos e esquemas desadaptativos que distorcem a percepção do outro e de si, priorizando o autoconservação em detrimento da empatia. Isso acontece porque nossa mente processa informações de forma que nem sempre é imparcial, influenciando nossas emoções e comportamentos.”
E, por fim, perguntei ao "psiquiatra IA":
“A dificuldade em amar o próximo como a si mesmo pode ter raízes em desregulações neurobiológicas ou transtornos de personalidade subjacentes, que afetam a capacidade de empatia, apego e regulação emocional. Nesses casos, a avaliação psiquiátrica pode identificar condições que necessitam de intervenção farmacológica ou psicoterapêutica específica para restaurar o equilíbrio funcional.”
Não levou cinco segundos pra máquina responder. Obviamente são análises rasas, não só pelo limite de três linhas. Mas porque a complexidade do comportamento humano é infinita, mutável, inquieta, enganosa e escapista.
amos a vida tentando solucionar problemas que nós mesmos criamos. E não adianta culpar a IA, ela é só um reflexo das nossas escolhas.
Pílula azul ou vermelha?, eis a questão.
Dentro da vã distração que eu tenho pela vida eterna, sigo à espera do Neo pra ajudar na luta contra a Matrix.