
As obras de calçamento e saneamento das principais vias da área central, a denominação de várias novas ruas e o destaque dado à modernização da Av. Júlio de Castilhos e da Praça Dante Alighieri foram marcas da gestão do prefeito Dante Marcucci a partir de 1937, conforme abordamos na coluna desta quarta-feira.
O “canteiro de obras” em que foi transformada a cidade durante sua istração (1935-1947) traduzia um dos pilares do discurso enaltecido pelo Estado Novo de Getúlio Vargas – leia-se profundas intervenções em estrutura urbana, acompanhando o crescente desenvolvimento econômico do município.
Parte dessa história foi destacada pelo arquiteto e urbanista Roberto Filippini, autor do livro O Outro Lado da Júlio (2020), e pelo historiador Mário Tomazoni, autor da dissertação Álbuns da cidade de Caxias (1935-1947): As reformas urbanas fotografadas, apresentada na PUC em 2011.
Ambos destacaram a peculiar defesa de Marcucci pelo calçamento com paralelepípedos nas quadras centrais, em substituição aos anteriores processos de macadamização – assentamento de três camadas de pedras em uma fundação com valas laterais, para a drenagem da água da chuva.
As razões do prefeito à época foram reproduzidas nos dois trabalhos:
“... por ser o gênero de pavimentação mais adequado para cidades de terrenos mais acidentados como a nossa; por ser mais durável; por ser um material que, desagregado, presta-se perfeitamente ao reaproveitamento, nos casos em que as ruas tenham de ser sulcadas por redes de instalações de esgotos, água, etc; e por ser uma construção que, levada a efeito, o será quase que exclusivamente com material caxiense, não se dando o mesmo se a pavimentação fosse de cimento ou asfalto”.

Pedreira na Sétima Légua
Conforme destacado por Filippini no livro, a matéria-prima para a pavimentação do primeiro trecho – a Av. Júlio, junto à Praça Dante – foi retirada de uma pedreira da Sétima Légua, provavelmente o local das fotos abaixo. O trecho seguinte incluiu a Rua Marquês do Herval, até a Sinimbu.
Já o segundo conjunto abrangia ruas que formavam um sistema ramificado a partir da Júlio. Entraram aí Coronel Flores, próximo à Estação Férrea; Sinimbu, Borges de Medeiros, Alfredo Chaves, Guia Lopes (fotos comparativas acima), Dr. Montaury, Visconde de Pelotas e Garibaldi.


Dois álbuns, dezenas de imagens
Registros de máquinas, operários, materiais de construção espalhados pelas ruas e um obrigatório “antes e depois” rechearam os dois álbuns fotográficos publicados pelo Município à época – e que nortearam a dissertação do historiador Mário Tomazoni.
Conforme Tomazoni, os álbuns Obras do Estado Novo - Caxias - Alguns Flagrantes da Urbanização e Saneamento “contribuíram para a construção de uma nova visualidade sobre a cidade, na medida em que se optava por mostrar, através de uma narrativa fotográfica, a transformação dos principais logradouros públicos em locais amplos, asseados, ordenados e propícios à circulação dos automóveis, que, então, começavam a substituir os obsoletos meios de transporte de tração animal”.
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