
Pioneira em instalações artísticas interativas e multimídia, a artista gaúcha Diana Domingues morreu aos 78 anos, nesta quinta-feira (5), em Porto Alegre, após três meses internada no hospital Moinhos de Vento. Reconhecida Brasil afora, construiu uma carreira de sucesso a partir de Caxias do Sul.
O corpo da artista é velado no Memorial São José de Caxias do Sul - Capela A. O sepultamento ocorre às 16h no Cemitério Público Municipal de Caxias do Sul.
Diana foi professora e pesquisadora, além de artista multimídia. Formou-se em Belas Artes, mas seu interesse se voltou para técnicas não convencionais de produção artística, inspirada por um curso ministrado por Walter Zanini sobre a obra de Marcel Duchamp, ando a trabalhar com fotomecânica e xerografia.
Nos anos 1980, dirigiu em Caxias do Sul o Atelier Livre da Universidade de Caxias do Sul e o Navi, trazendo artistas, críticos e teóricos para darem cursos e palestras.
Suas pesquisas na dissertação de mestrado focaram nas bagagens de imagens e processamentos eletrônicos. Esse trabalho, desenvolvido na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, teve boa repercussão, gerando um convite para dar curso na mesma escola em 1991. Fez doutorado na PUC-SP, onde defendeu a tese "Imagem Eletrônica e a Poética da Metamorfose" e apresentou uma instalação multimídia interativa na Bienal de São Paulo.
O coordenador da Galeria de Arte Gerd Bornheim, Gilmar Marcílio, define Diana como uma pessoa de visão futurista.
— Ela foi muito visionária no sentido de inserir a tecnologia. E eu me lembro de uma frase que ela disse, que nos parecia um tanto quanto absurdo. Ela disse que "não demorarão muitos anos para que o real e o virtual se confundam. E as pessoas não saberão mais distinguir um do outro". Naquele momento em que tudo era ainda incipiente no mundo da internet, nós achávamos uma frase muito precipitada. E realmente, até num tempo muito mais curto do que ela previu, a gente descobre que hoje em dia está tudo imbricado, está tudo junto. Então, ela foi muito visionária. Ela foi irável em muitos sentidos — resume Marcílio.
Por sua vez, a artista visual Giovana Mazzochi, participante do grupo Artecno da UCS, disse que Diana lutou para que as artes visuais se desenvolvessem em Caxias do Sul.
— A Diana era uma mulher extremamente vibrante, focada e sagaz. Tinha uma inteligência digna dos gênios. Não se abalava fácil e lutou muito para que as artes visuais se desenvolvessem tanto em Caxias, como no Brasil. Inclusive, as melhores histórias com ela, sempre tem relação com a sua luta pelo espaço que ela e as artes mereciam. Foi uma mulher literalmente a frente do seu tempo, que desde dos anos 1990 já pesquisava sobre realidade aumentada e imersiva, termos que agora estamos entendendo melhor.
Giovana acredita que todos que conviveram com Diana vão dizer que aprenderam muito com a artista.
— No laboratório Novas Tecnologias nas Artes Visuais (NTAV), o grupo Artecno era generosamente comandado pela Diana, que permitia que todos pudessem criar, pesquisar e compartilhar seus conhecimentos, pois no laboratório trabalhavam juntos artistas e programadores. Acho que todos que aram por ela vão dizer a mesma coisa: aprendi muito com a Diana!
Reconhecimento internacional
Em 2023, Diana foi reconhecida pelo prêmio internacional e-Culture Awards 2023, da Anilla Cultural, na categoria "Pioneers e-Culture".
Na época, a pesquisadora e professora Lucia Santaella disse que "não há pesquisadores ou artistas engajados no campo da arte e tecnologia, em quaisquer partes do mundo, que não tenham conhecimento da pessoa e dos trabalhos de Diana Domingues. Citada em vários livros estrangeiros e artista premiada, seu nome engrandece não apenas a cidade onde nasceu, Caxias do Sul, mas também nosso país".
O artista digital francês e professor na Universidade Paris-8, Edmond Couchot se referiu à artista como "uma teórica das artes visuais tradicionais (das artes visuais ao vídeo) e das novas artes visuais, baseadas na tecnologia digital - computadores, interfaces, redes. Possui um conhecimento preciso e vasto do meio internacional (artistas, historiadores da arte, estetas, curadores, investigadores, editores, etc.) e as suas análises são sempre pertinentes e objetivas, sendo as publicações que dirige de capital interesse".
Nota do grupo Artecno, da UCS
Hoje nos despedimos de Diana Domingues, uma mente visionária que marcou profundamente a arte, a ciência, a tecnologia e a educação brasileira. Professora generosa, artista pioneira e pesquisadora inquieta, ela soube entrelaçar tecnologia e sensibilidade humana como poucas pessoas. Seu legado pulsa nas obras, nos laboratórios, nas salas de aula e, sobretudo, nas pessoas que ela inspirou. Para aqueles que, como nós, tiveram o privilégio de conviver com sua inteligência luminosa, fica a saudade e a gratidão. Diana partiu, mas sua presença seguirá viva onde houver criação, pensamento livre e coragem de imaginar o futuro.
Nossos profundos sentimentos Grupo Artecno/NTAV
- Adriano Oliveski
- Alexandre Lorenzatti
- Aline Corso
- Carine Turelli
- Daiane Fracaro
- Denison Tavares
- Elisabete Bianchi
- Gabriela Cavalli
- Gelson C. Reinaldo
- Giovana Mazzochi
- Gustavo Lazzarotto
- Henrique Debarba
- Jeronimo Grandi
- Katielen Bissolotti
- Leonardo Frankie
- Lilian Maschio
- Maurício dos os
- Paulo Vega Jr.
- Solange Baldiserotto
- Stelamaris Oliveira
- Tatiane Tschoepke da Fonseca Bertuol