
O transporte rodoviário interestadual vive um momento de lenta recuperação em 2022, superando números do período mais grave da pandemia, mas ainda não retomando ao patamar de 2019. Dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), solicitados pela reportagem, mostram que o setor carregou mais de 9,4 milhões de ageiros no primeiro trimestre deste ano no país, superando os anos de 2020 e 2021, mas ficando abaixo dos 11 milhões de 2019. Em Caxias do Sul, o cenário se repete, conforme a agência.
Em 2019, Caxias teve 147.889 ageiros que viajaram para fora do Estado. No ano seguinte, foram 55.050, queda de quase 100 mil ageiros. Em 2021, os números mostram uma retomada, com 86.113 ageiros. Os destinos favoritos são Florianópolis, Curitiba, Lages, São Paulo, Balneário Camboriú e Chapecó (veja no mapa abaixo).
— Mais para o final de 2021, foi estabilizando, o pessoal foi tomando as vacinas e foi criando coragem. Agora, tivemos um verão razoavelmente bom. A volta é gradativa e acredito que vai levar mais um tempo para chegarmos ao mesmo patamar de 2019 — analisa Jerry Weber, gerente comercial da empresa Reunidas.
A ANTT informa que ainda não possui os dados de 2022, pois o levantamento do primeiro trimestre está sendo realizado. Por lei, as empresas têm até três meses depois do fim do período para rear os números à agência.
Entre os principais destinos procurados, mais de 33 mil ageiros saíram de Caxias do Sul, em 2019, para viagem a Florianópolis, o favorito dos caxienses. Em 2020, o número caiu para 11 mil, enquanto em 2021, subiu para 15 mil. A Reunidas, uma das empresas que atende o itinerário, calcula ainda que entre maio e junho de 2021 para o mesmo período de 2022, ocorreu um aumento de 42%.
Sabe-se que o ano para o setor tem dois momentos. Um é o de férias, principalmente no verão e no inverno. Já o outro são os períodos que os ônibus são mais procurados para viagens de trabalho.

Concorrência com setor aéreo
Um dos motivos mencionados para retomada é o que gera preocupação em outro setor. Enquanto o combustível pode gerar inflação nas tarifas das viagens aéreas, chegando a aumento de até 70%, as empresas rodoviárias aproveitam para reconquistar ageiros a partir de atendimento diferenciado. Há ônibus com opcional de leitos, com cobertor e travesseiro, para dar maior conforto ao viajante.
— A volta do ageiro tem relação com o aumento da agem aérea, tem relação com as empresas de ônibus que renovaram a frota. O ageiro, hoje, tem o mesmo conforto que um avião — destaca Weber.
A Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de ageiro (Abrati), inclusive, menciona que as empresas procuraram ofertar mais promoções para as férias de julho. A organização afirma que descontos de até 70% foram encontrados nas agens de ônibus em viagens interestaduais.
Veja abaixo, no vídeo, a frota utilizada para viagens interestaduais:
— Uma boa dica para conseguir economizar nas agens de ônibus é planejar a viagem com a maior antecedência possível. Para as férias de julho, o transporte terrestre de ageiros têm muitos destinos que costumam valer a pena — avalia Letícia Pineschi, porta-voz da Abrati.
Em Caxias do Sul, a "disputa" aconteceria entre as viagens para São Paulo, único destino oferecido pelas companhias aéreas no Aeroporto Hugo Cantergiani. Mesmo assim, as empresas rodoviárias procuram ofertar os melhores serviços aos ageiros para diferentes destinos. Em comparação de preços nesta quinta-feira (14), um voo para São Paulo, para o dia 3 de agosto, está na faixa de R$ 850, e a agem de ônibus custa R$ 294 (para lugar convencional) ou R$ 535 (para leito). Já para Florianópolis, os preços variam entre R$ 129 (convencional), R$ 157 (executivo) e R$ 185 (leito).

— Se eu quero competir com o avião, eu tenho que ter um ônibus em que meu ageiro possa comprar a poltrona tipo leito e possa viajar deitado, por exemplo, de Caxias para Florianópolis — destaca o gerente comercial da Reunidas.
Para também trazer mais ageiros, as empresas apostam na disponibilidade de horário. Como, por exemplo, oferecer viagens noturnas, em que o ageiro pode aproveitar o caminho para dormir. Ou, ainda, oferecer itinerário durante o dia, para aqueles que preferem este horário.
Transporte intermunicipal também tem retomada lenta
O transporte intermunicipal também tem uma retomada lenta. Conforme assessoria do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), "não houve alteração no fluxo em 2022, tendo em vista que os 24 meses anteriores ainda estavam sob impacto da pandemia". Mas, existe uma lenta retomada. De maio de 2021 para maio de 2022, o número de ageiros subiu de 20 mil para 30 mil.
— Ela não está acompanhando ainda a oferta. A demanda ainda é mais baixa que a oferta — avalia André Tartaglia, diretor de operações da Caxiense.
O setor a por desafios, como a concorrência com o transporte clandestino. Em relação ao combustível, o setor registrou um aumento na tarifa, em abril, por conta da alta do diesel. De acordo com o Daer, o reajuste foi de 7,33%. A empresa avalia que isso não interfere nas vendas de agens.
— Primeiro, as pessoas podem ter procurado uma nova forma de transporte, acreditamos nós que seja isso. Segundo, temos concorrências que são ilegais e acabam fazendo esse transporte e captando ageiros. Além de uma situação de desemprego, em que tem menos pessoas trabalhando, menos pessoas viajando e menos vale-transporte para atender — afirma o diretor de operações.
Há também o transporte "solidário", em que pessoas compartilham carona e depois, dividem a conta. A empresa também não vê que a variação no preço da gasolina de veículos de eio possa ser um fator que possa trazer ageiros de volta.