A previsão da chegada da primeira onda de frio do ano ao Estado, ainda nesta semana, eleva a preocupação quanto à superlotação das estruturas de saúde por problemas respiratórios. Hospitais e outras unidades da Região Metropolitana já operam com ocupação muito acima da capacidade. A apreensão é ampliada pela baixa cobertura vacinal contra a gripe. É uma combinação de fatores perigosa. Tende a ocasionar uma procura ainda maior da população por atendimento e risco de a assistência adequada não ser encontrada devido à falta de leitos, por exemplo.
Torna-se forçoso reiterar os apelos pela imunização contra a gripe, o principal escudo para prevenir casos mais graves
A crise no setor, agravada pelo número alto de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), levou o governo gaúcho a decretar situação de emergência em saúde pública no início da semana ada. Medida semelhante foi tomada pela Capital dias antes. São iniciativas que dão respaldo legal para agilizar a contratação de profissionais e a aquisição de insumos e reivindicar mais recursos do Ministério da Saúde para abrir leitos.
Os próximos dias serão de alerta. Ainda que os decretos signifiquem maior celeridade em processos e possibilitem ar verbas, não se sabe exatamente em quanto tempo podem produzir o desafogo esperado. a a ser necessário que a população, especialmente a de idosos, mais suscetíveis a problemas respiratórios, redobre os cuidados individuais. Nos últimos dois anos, os grupos com 60 anos ou mais respondem por 70% das mortes por gripe. Torna-se forçoso reiterar os apelos pela imunização. É o principal escudo pessoal e coletivo à disposição para prevenir casos mais graves, necessidade de hospitalizações e óbitos.
Cerca de 400 municípios gaúchos realizaram em 10 de maio, um sábado, o Dia D da vacinação contra a gripe. Ainda assim, a adesão segue alarmante. Apenas 30% da população e 35% dos idosos foram imunizados. São percentuais muito distantes da meta de atingir 90% dos públicos-alvo. Informação publicada ontem em Zero Hora mostra que, no ano ado, a cobertura fechou em 52% e, em 2023, em 61%. Na Capital, o Dia D ocorreu nesse último sábado. Mas deve-se persistir nas campanhas informativas para incentivar a busca por proteção.
A maior longevidade, traduzida no crescimento do número de idosos em proporção aos demais grupos etários, tem consequências como o aumento da procura pelos serviços de saúde pública. Trata-se de uma circunstância que obriga União, Estado e municípios a dar mais atenção à área. Ainda que o aprimoramento da gestão seja desejado, problema que aparece de forma crônica em municípios da Região Metropolitana, permanece o desafio do financiamento. O Piratini prometeu verbas extras para a Operação Inverno, mas se espera que cheguem também a um bom termo as discussões em andamento para o Estado aplicar de fato os 12% da receita na saúde. Não há ainda como esmorecer nas cobranças ao governo federal para que a tabela do SUS fique mais próxima dos custos reais. Deve-se ter cuidado, no entanto, com propostas que carecem de base legal, como a de usar os recursos do Funrigs no custeio da saúde. O dinheiro do fundo pode ser empregado apenas para a resiliência climática ou no enfrentamento das consequências dos eventos extremos. Não parece ser esse o caso de agora.
O quadro atual de hospitais e unidades básicas saturados é resultado de uma série de fatores que têm diferentes soluções, de curto e longo prazos. Mas não é issível que, a cada ano, os serviços de saúde pareçam surpreendidos pela chegada das estações mais frias e despreparados para o crescimento das doenças respiratórias.