O primeiro trimestre de 2025 foi apenas mais um em que o desempenho da economia do país demonstrou força. Entre janeiro e março, o PIB cresceu 1,4%, mostrou o IBGE. Grande parte do avanço na geração de riquezas veio da agropecuária, beneficiada por uma safra recorde e uma base de comparação deprimida. Em relação aos três meses finais do ano ado, a alta foi de 12,2%, e ante igual período de 2024, afetado pelo clima, de 10,2%. Serviços (0,3%) e indústria (-0,1%), no cotejo com o último trimestre do ano ado, não tiveram o mesmo brilho.
Ainda que a atividade mostre resiliência, como ilustra o mercado de trabalho, persiste a preocupação com os próximos trimestres
Ainda assim, voltaram a merecer atenção o consumo das famílias, com alta de 1%, e os investimentos, que subiram 3,1%, a despeito do crédito caro. É plausível que, com o efeito defasado da escalada da Selic, que saiu de 10,5% ao ano em setembro último para 14,75% agora, devido à pressão inflacionária, esses indicadores percam fôlego ao longo do ano, assim como outras variáveis do PIB. A agropecuária dá a principal contribuição no primeiro trimestre.
Ainda que a economia mostre resiliência, como ilustra o mercado de trabalho, persiste a preocupação com os próximos trimestres. Além das incertezas externas, incrementadas pela guerra comercial desencadeada pelos EUA, a cautela advém da situação fiscal frágil do país. São desequilíbrios que alimentam expectativas inflacionárias e postergam o início de um ciclo de corte do juro. Não à toa, na sexta-feira a agência de risco Moody’s reafirmou a nota de crédito do Brasil em “Ba1”, mas mudou a perspectiva de positiva para estável. É um sinal amarelo.
A crise política desencadeada pelo decreto do governo federal que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para tentar fechar as contas em 2025 e 2026 e gerou reação do Congresso e de entidades empresariais pode ser, por linhas tortas, a esperança de que Executivo e Legislativo enfim itam a gravidade do quadro e tomem providências para uma racionalização estrutural dos gastos. Parlamentares deram na quinta-feira prazo de 10 dias para a Fazenda encontrar alternativas ao IOF. Caso contrário, ameaçam derrubar a medida. Também sob pressão, o presidente da Câmara, Hugo Motta, itiu até a revisão de incentivos fiscais, que em 2025 chegam a exorbitantes R$ 544,47 bilhões, conforme o orçamento da União.
Governar ou ter poder significa responsabilidade de fazer escolhas difíceis. É nessa situação que estão Executivo e Congresso. Não há margem para mais impostos. O mapa para sanear as contas é conhecido. a por revisão dos gastos tributários, enxugamento de emendas parlamentares, mudança nas vinculações da saúde e da educação e alteração da condição do salário mínimo de indexador de despesas sociais e previdenciárias, entre outras medidas. Aguarda-se demonstração de coragem para deixar em segundo plano interesses corporativos, políticos e eleitorais imediatos e privilegiar o necessário para renovar a confiança dos agentes econômicos – consumidores, empresários e investidores. Seria o esperado para recolocar o Brasil no trilho do crescimento sustentado, com juro civilizado e inflação sob controle, e afastar os temores da repetição de parte dos fatores que levaram à crise de meados da década ada.