
Mais de 10,2 mil quilômetros de distância separam, fisicamente, a designer Carolina Teixeira, 27 anos, e o analista de riscos Henrique Weber, 26. Ela vive em Porto Alegre. Ele, em Genebra, na Suíça. É por meio de mensagens e chamadas de vídeo que eles fazem um relacionamento que atravessa o Atlântico funcionar.
Os dois começaram a namorar em novembro de 2023, mesmo com dúvidas sobre a viabilidade da relação.
— O Henrique ia de férias para o Brasil e queria ter dates com pessoas e dar rolês. Demos match no Tinder em agosto de 2023. A gente começou a conversar todos os dias, ou a fazer chamadas de vídeo e foi se apegando. Chegou no ponto em que ele antecipou a viagem dele para a gente se ver o quanto antes. Foi toda uma cena de comédia romântica — conta Carolina.
Relacionamentos a distância sempre existiram, especialmente entre casais separados por guerras, migrações ou trabalho.
Com o avanço da tecnologia, esse tipo de relação se tornou mais comum e viável, ganhando até uma nova denominação: webnamoro, usada para descrever vínculos afetivos que se desenvolvem exclusivamente no ambiente virtual.
Assim como o casal de gaúchos, alguns relacionamentos já começam com o obstáculo da distância. Outros iniciam presencialmente, e depois, em razão de uma mudança na vida de um dos parceiros, am a ser tocados em cidades, Estados ou países diferentes. Como quando uma pessoa vai fazer um intercâmbio ou é transferido no trabalho, por exemplo.
Encontros planejados
Desde o início do namoro, o máximo de tempo que Carolina e Henrique aram separados um do outro foi três meses. Para os dois, é importante saber com antecedência quando será o próximo encontro:
— Depois de se ver, a gente tenta já saber qual vai ser a próxima vez. É importante ter as datas para ter algo concreto, não ficar naquela coisa vaga de que a gente vai se ver, mas não sabe quando. Agora ela veio e a gente sabe que provavelmente a próxima vez vai ser em setembro ou outubro. Dá para fazer contagem regressiva — confessa o gaúcho que mora em Genebra.
Relacionamento a distância funciona?
A ausência do contato físico e a rotina vivida em lugares diferentes pode ser vista como um obstáculo difícil de superar. No começo, Weber também achava que uma relação permeada pela distância não poderia dar certo:
— Sempre fui muito reticente com isso. Mas, justamente, eu estava tão apegado que eu pensei: “Ah, não tem por que não tentar”. Vamos vendo o que dá, sabendo de todos os riscos.
Para especialistas em relacionamento, a modalidade pode funcionar, sim. A internet, inclusive, ajuda a encurtar as distâncias e contribui para que os casais criem laços fortes. Alguns fatores, como comunicação e confiança, são indispensáveis para que a experiência seja positiva para ambos.
— Não há uma receita pronta para fazer um relacionamento a distância dar certo. É uma relação que precisa de um contato claro, de objetivos e características pessoais para ar a distância. Se é um relacionamento fechado, precisa muito da perspectiva da confiança — defende a psicóloga e terapeuta de casais Jaciane Pinto Guimarães.
Ela explica que algumas pessoas têm personalidades mais controladoras ou mais dependentes emocionais do parceiro. Nestes casos, podem sofrer mais dificuldades de sustentar um relacionamento neste formato.
Como cultivar uma relação saudável mesmo longe?

Carolina e Henrique reforçam que prezam pela individualidade, o que contribui para que um não seja dependente do outro. Eles também ressaltam a importância de confiar um no outro. Saber que o parceiro está comprometido, mesmo longe, reduz inseguranças e fortalece o sentimento de parceria entre o casal, pontua a psicóloga.
O casal também costuma fazer uma lista de atividades para fazer ou locais para conhecer quando estiverem juntos. Segundo eles, isso ajuda a amenizar a ansiedade para o encontro.
Planos em comum
Para Jaciane, é importante que os casais tenham planos em comum para acabar ou diminuir a distância.
— Por exemplo, o casal quer ir morar no Japão. Primeiro vai um, depois que o outro acabar a faculdade vai também. Ou fazer o plano de fazer mestrado no país que o parceiro está fazendo doutorado. Esses planos facilitam e tendem a ter uma capacidade de sustentação maior — acrescenta.
Bruna defende que um relacionamento que seja eternamente a distância pode não ser sustentável a longo prazo, considerando as necessidades humanas:
— Ninguém quer viver um relacionamento para sempre distante do outro. Nós precisamos do toque, do afeto, do contato físico. Sentimos falta disso, não tem como. Nem que se vejam a cada seis ou três meses, uma vez por ano. Isso precisa fazer parte do alinhamento das expectativas.
Para a psicóloga especialista em relacionamentos Bruna Caroliny, é preciso ter maturidade emocional e uma comunicação efetiva:
— Eles precisam aprender a resolver conflitos, porque essa comunicação pode ser um pouco escassa às vezes, os horários podem não bater. Relacionamento a distância exige que o casal possa ser mais intencional, descobrir novas formas de demonstrar o amor — afirma a psicóloga especialista em relacionamentos
As especialistas defendem que é importante que o casal converse por mensagens, sobre coisas banais do dia a dia, façam chamadas de vídeo e tenham outros rituais que ajudem a aumentar a intimidade e a conexão. Escolher um filme para cada um ver na sua casa ou fazer a mesma atividade física ao mesmo tempo nas suas respectivas cidades, por exemplo, podem fortalecer o vínculo.
— Uma coisa que eu acho legal e que a gente faz desde o início é fazer dates online. Ele gosta muito de cozinhar, eu também. A gente escolhe um prato e a gente cozinha exatamente o mesmo prato e come junto, cada um na sua casa — revela Carolina, moradora da Capital.
É assim que os dois vão comemorar o Dia dos Namorados, celebrado nesta quinta-feira (12).