A cegueira legal, conforme definição da OMS, ocorre quando o indivíduo tem uma acuidade visual de 20/400 ou menos, o que representa uma visão de 1/20 ( um vigésimo) do normal com correção, ou tem campo visual a 10 graus de amplitude. Acima disso, até visão de 20/70 (cerca de um terço da visão normal) ou campo visual limitado a 20 graus de amplitude considera-se como visão subnormal, explica o presidente da Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul (Sorigs), Marcos Brunstein.
A cegueira pode ser total, quando a pessoa não enxerga nada, ou funcional, no momento em que a visão é tão baixa que não permite o indivíduo exercer suas atividades. No país, a população estimada de cegos é de mais de 1,5 milhão, ou 0,75% dos cidadão, de acordo com o guia As Condições de Saúde Ocular no Brasil 2019, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
A principal causa de cegueira reversível é a catarata, com 51% dos casos. Aqui no país, afeta 30% das pessoas acima de 60 anos. Surgem cerca de 550 mil novos casos por ano.
A cegueira irreversível é provocada, na maioria dos casos, pelo glaucoma, que afeta de 2% a 3% da população acima de 40 anos. Estima-se que haja um milhão de brasileiros com glaucoma.
A DMRI, degeneração macular relacionada à idade, é outra importante causa de baixa visão e cegueira no mundo, apresentando maior incidência nos países do hemisfério norte. Soma-se à lista a retinopatia diabética, que tem maior incidência em países menos desenvolvidos.
— A principal forma de cegueira de origem infecciosa no mundo chama-se trachoma e é causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, mais encontrada quando piores são as condições sanitárias. Sendo assim, é a principal causa de cegueira ível de prevenção no planeta. A OMS acredita que existam 5,5 milhões de cegos em razão dessa doença — diz o presidente da Sorigs.
Conjuntivite
DMRI
Glaucoma
Olho seco
Terçol
Uveíte
* Fontes: Marcos Brunstein, presidente da Sorigs, e Fausto Stangler, oftalmologista do HBO de Porto Alegre
Para compreender o que são os erros/vícios de refração, é preciso entender minimamente a estrutura do olho humano. Nossos olhos têm duas lentes naturais. A mais externa, à frente da íris (colorido do olho), chama-se córnea, e a mais interna, atrás da íris, é o cristalino. No fundo do olho, fica a retina, região responsável por transformar estímulos luminosos em estímulos nervosos, que vão, a grosso modo, ser convertidos em imagens.
Os vícios de refração, esclarece o oftalmologista Fausto Stangler, ocorrem basicamente pelo desequilíbrio entre o comprimento do globo ocular e os graus de suas lentes naturais. Esses vícios/erros são: miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia.
— Se o olho é muito grande, gera dificuldade para ver de longe, o que é a miopia. O olho pequeno acarreta dificuldade para enxergar de perto, a chamada hipermetropia. Há quem diga que tem miopia e hipermetropia, mas elas são lados opostos de uma mesma moeda, ou seja, não podem aparecer ao mesmo tempo — ensina o médico do HBO.
A pandemia de coronavírus provocou o afastamento compulsório do convívio social e também trouxe mudanças para a rotina de trabalho e de estudos. Parte desse processo de distanciamento foi observado nos consultórios médicos, onde as consultas de rotina ou de acompanhamento de doenças crônicas caíram notavelmente.
Sérgio Fernandes, 1º secretário da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), destaca que um dos aspectos mais preocupantes foi a interrupção de tratamentos, sobretudo do glaucoma, no qual o paciente precisa visitar o médico até quatro vezes ao ano.
— São pessoas que deveriam fazer exames, mas, com receio de estar em locais com muita gente, se afastaram do tratamento. O abandono pode levar a pessoa com o glaucoma controlado a ter uma doença descontrolada sem que ela perceba. É um problema que exige vigilância — afirma Fernandes.
Fora isso, o dia a dia em frente às telas aumentou as queixas de desconforto ocular por olho seco e ardência, após o uso dos eletrônicos (leia mais logo abaixo).
Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia revelam queda de 27% no total de exames diagnósticos de glaucoma durante a pandemia. Segundo estimativas, as cirurgias para tratar a doença também foram impactadas: ao menos 6,7 mil deixaram de ser realizadas em 2020. No Rio Grande do Sul, a redução foi de 41%.
— Um dos grandes desafios no diagnóstico do glaucoma é que nem sempre apresenta sintomas. Por isso, alertar sobre o assunto é sempre muito importante e buscar um oftalmologista para examinar os olhos é fundamental — destaca José Beniz Neto, presidente do CBO.
Com a adoção de trabalho e aulas remotas, o uso de computadores e celulares aumentou consideravelmente. O problema, segundo Sérgio Fernandes, secretário da SBO, é que a exposição a esses equipamentos por tempo prolongado prejudica os olhos. Além do olho seco, provocado pela diminuição no piscar, a utilização excessiva desses dispositivos pode induzir o desenvolvimento de miopia, especialmente em crianças, adolescentes e adultos jovens.
— Normalmente, nós piscamos de 18 a 19 vezes por minuto. Porém, em frente às telas, esse número cai pela metade, para oito a nove vezes por minuto. Daí a origem das reclamações de olho seco, cansaço e ardência — observa Sérgio Fernandes.
Portanto, a recomendação é fazer um intervalo de três a cinco minutos a cada uma hora e meia em frente aos equipamentos e atentar para as crianças:
— Recomendo que elas usem, no máximo, duas horas pela manhã e outras duas à tarde. Nem sempre é possível, pois as aulas levam quatro horas seguidas, mas, então, que a diversão dessas crianças após essas atividades não seja com tablet ou televisão. Isso é um fator de indução à miopia bem importante.