
A fumaça preta que saiu da Capela Sistina nesta quarta (7) e quinta-feira (8) sinalizou que as primeiras votações do conclave terminaram sem a eleição de um novo papa.
Quando o sucessor de Francisco for, finalmente, definido, uma das primeiras decisões que tomará será a escolha do nome pelo qual será conhecido durante o seu pontificado.
O ritual, com raízes na tradição católica, simboliza o início de uma nova missão espiritual. Assim que um cardeal é eleito, o decano do Colégio Cardinalício lhe pergunta: "Quo nomine vis vocari?" ("Como quer ser chamado?").
A resposta dará origem ao novo nome papal, uma escolha feita pelo próprio pontífice com base em homenagens a antecessores, santos ou referências bíblicas. A prática remonta ao próprio Jesus Cristo, que trocou o nome do apóstolo Simão para Pedro.
Critérios e inspirações
A maioria dos papas opta por nomes já usados anteriormente, como forma de reverência a figuras marcantes da Igreja. Alguns, porém, adotam nomes inéditos, como Francisco, escolhido por Jorge Mario Bergoglio em 2013 em homenagem a São Francisco de Assis.
A ideia surgiu após uma recomendação do cardeal brasileiro Cláudio Hummes: "Não se esqueça dos pobres", teria dito o religioso logo após a eleição.
Em teoria, o papa poderia manter seu nome de batismo, mas isso não ocorre desde o século 16, quando Adriano VI foi eleito. A tradição de mudança começou no ano 533, com João II, que evitou manter o nome pagão Mercúrio.
Nomes mais usados por papas
Os nomes preferidos pelos pontífices ao longo dos séculos refletem devoção e continuidade. Os mais comuns são:
- João: 21 vezes
- Gregório: 16 vezes
- Bento: 15 vezes
- Clemente: 14 vezes
- Leão e Inocêncio: 13 vezes cada
- Pio: 12 vezes
Porém, nem sempre a numeração é linear. O nome João, por exemplo, pula o número XVI (considerado antipapa — pessoa que reclama o título para si, em oposição a um pontífice legitimamente eleito, ou durante algum período em que o cargo estava vago) e não inclui um João XX, devido a um erro histórico. Da mesma forma, o nome Bento desconsidera Bento X, também considerado antipapa.
Nomes raros e controvérsias
Alguns papas escolheram nomes pouco frequentes, como Simplício, Zacarias e Teodorico. Outros, como Pio, caíram em desuso devido a polêmicas históricas — o último Papa Pio, Pio XII, enfrentou críticas pela postura durante o Holocausto.
Desde o século 20, os papas geralmente selecionam nomes que homenageiam figuras que marcaram sua fé ou história recente da Igreja.
João Paulo I, eleito em 1978, foi o primeiro a adotar um nome duplo, reverenciando João XXIII e Paulo VI. Seu sucessor, João Paulo II, seguiu o exemplo como sinal de continuidade.
Em 2005, Joseph Ratzinger escolheu Bento XVI em tributo a Bento XV, conhecido como o "papa da paz" por sua atuação durante a Primeira Guerra Mundial.
Papas "marcantes" desde o século 20
Entre os pontífices mais notáveis do último século estão (em parênteses, o período como papa):
- Giacomo Paolo Giovanni Battista della Chiesa — Bento XV (1914-1922): defensor da paz na Primeira Guerra Mundial
- Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli — Pio XII (1939-1958): papa cujo "silêncio" diante do Holocausto é tema de debate até hoje
- Angelo Giuseppe Roncalli: João XXIII (1958-1963): iniciou o Concílio Vaticano II
- Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini: Paulo VI (1963-1978): concluiu o Concílio e defendeu a paz social
- Karol Józef Wojtyła — João Paulo II (1978-2005): primeiro papa não italiano em séculos
- Joseph Aloisius Ratzinger — Bento XVI (2005-2013): renunciou ao cargo em um gesto histórico
- Jorge Mario Bergoglio — Francisco (2013-2025): primeiro latino-americano e conhecido pela sua atuação social e ambiental